E se para mais não servisse
(e para mais,
bem mais, serviu)
foi um belo motivo para versos.
E que mais desejar a mulher amada
senão tornar-se motivo maior,
quase único, no mister de escrever?
Mas agora se foi e, longe, bem longe,
inspira antiversos, antipoemas
na conjuração da ausência.
E antiverso é como antiflor:
forma assimétrica, sem cor
e sem perfume, baldia aos insetos
e imune ao sol, precária e torta
para espanto do passante atento
a tal horror na tarde estampado.
Assim é a mulher amada que se foi,
vulto disforme e sem perfume,
cada vez mais imprecisa e rara
com o seu erotismo inútil e alheio
porque coagulado no futuro anonimato
do esquecimento em plena gestação.
Assim é a mulher amada que se foi,
não mais que uma simples mulher que se foi.
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