Ontem os de
putas dos brasileiros aprovaram,
com pompa e
circunstância, claque nas galerias,
a lei que
prevê reserva de 40% das entradas
nas casas de
espetáculos e teatros para jovens,
ao preço de
metade da tarifa.
Mais uma
cortina de fumaça, mais um golpe
da
legionária troupe de canalhas criminosos
para
esconder crime que se ensaia escondido:
tramita no
Congresso Nacional projeto de lei
impedindo a
publicação de biografias
sem a
permissão do biografado e seus herdeiros.
Segundo um
senador, prócer da falta de decoro,
“é preciso
prevenir para não ter que remediar”,
o que bem
diz da intenção de tão espafúrdia lei.
Como se faz
a história senão na busca dos fatos,
suas
motivações e consequências, estampadas
em seus mentores,
vítimas e beneficiários?
Como se faz
a arte senão na busca incessante
dos
espíritos escondidos por trás das palavras,
das cores,
das formas, dos projetos, obras...
Que se
ensaiaram primeiro nos artistas
para só
então se emanciparem e mudarem tudo?
Como
entender senão vasculhando biografias,
garimpando
as pepitas que geraram jóias
ou chafurdando
esgotos que geram merda?
Como dizer
aos descendentes que ex governador,
acusado de
desviar bilhões (com bê mesmo, revisor),
não pode
sair do país porque pedido pela Interpol,
criminoso no
mundo todo, menos no Brasil?
Como
escarafunhar-lhe uma existência de desonestidades,
se,
deputado, faz parte da Comissão de Constituição
e Justiça do
Congresso Nacional Brasileiro,
e cabo
eleitoral da lei que acaba com as biografias?
Autorizará
este senhor ao seu biógrafo dizer
que é filho
da Ditadura Militar, Comandante
de uma
polícia sanguinária e torturadora?
Que mais não
fez na vida que mandar matar e roubar?
Que de
engenheiro de quinta categoria, funcionário público,
Após eleito,
em tempo recorde amealhou fortuna
maior que o
PIB de muitos países?
Como dizer
isso, provar isso sem a autorização dele?
Mas há
rosas. Biografando combatemos preconceitos,
mostrando,
por exemplo, versos nascidos de coração
puro
sentimentos e sensibilidade comovendo:
são ciganos,
são de Cecília Meireles, como ciganos
Juscelino
Kubistcheck e Castro Alves.
Dizer que
Judeus, os pais dessa obra de arte,
Palestinos
os dessa, negros os daquela,
Homossexuais
os daqueloutra.
Como nos
contarmos contando a outros
se não
poderemos mais?
As
biografias serão banidas da cultura brasileira
o que só será
possível porque, antes,
baniram dos
brasileiros a consciência brasileira.
Espelho,
espelho meu:
será que o
único
indignado
sou eu?
O único lúcido no meio de otários?
Respostas
nos comentários.
Francisco
Costa.
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