sexta-feira, 17 de maio de 2013

Vulgar

Ontem os de putas dos brasileiros aprovaram,
com pompa e circunstância, claque nas galerias,
a lei que prevê reserva de 40% das entradas
nas casas de espetáculos e teatros para jovens,
ao preço de metade da tarifa.

Mais uma cortina de fumaça, mais um golpe
da legionária troupe de canalhas criminosos
para esconder crime que se ensaia escondido:
tramita no Congresso Nacional projeto de lei
impedindo a publicação de biografias
sem a permissão do biografado e seus herdeiros.

Segundo um senador, prócer da falta de decoro,
“é preciso prevenir para não ter que remediar”,
o que bem diz da intenção de tão espafúrdia lei.

Como se faz a história senão na busca dos fatos,
suas motivações e consequências, estampadas
em seus mentores, vítimas e beneficiários?

Como se faz a arte senão na busca incessante
dos espíritos escondidos por trás das palavras,
das cores, das formas, dos projetos, obras...
Que se ensaiaram primeiro nos artistas
para só então se emanciparem e mudarem tudo?

Como entender senão vasculhando biografias,
garimpando as pepitas que geraram jóias
ou chafurdando esgotos que geram merda?

Como dizer aos descendentes que ex governador,
acusado de desviar bilhões (com bê mesmo, revisor),
não pode sair do país porque pedido pela Interpol,
criminoso no mundo todo, menos no Brasil?

Como escarafunhar-lhe uma existência de desonestidades,
se, deputado, faz parte da Comissão de Constituição
e Justiça do Congresso Nacional Brasileiro,
e cabo eleitoral da lei que acaba com as biografias?

Autorizará este senhor ao seu biógrafo dizer
que é filho da Ditadura Militar, Comandante
de uma polícia sanguinária e torturadora?

Que mais não fez na vida que mandar matar e roubar?
Que de engenheiro de quinta categoria, funcionário público,
Após eleito, em tempo recorde amealhou fortuna
maior que o PIB de muitos países?
Como dizer isso, provar isso sem a autorização dele?

Mas há rosas. Biografando combatemos preconceitos,
mostrando, por exemplo, versos nascidos de coração
puro sentimentos e sensibilidade comovendo:
são ciganos, são de Cecília Meireles, como ciganos
Juscelino Kubistcheck e Castro Alves.
Dizer que Judeus, os pais dessa obra de arte,
Palestinos os dessa, negros os daquela,
Homossexuais os daqueloutra.

Como nos contarmos contando a outros
se não poderemos mais?

As biografias serão banidas da cultura brasileira
o que só será possível porque, antes,
baniram dos brasileiros a consciência brasileira.

Espelho, espelho meu:
será que o único
indignado sou eu?

O  único lúcido no meio de otários?
Respostas nos comentários.

Francisco Costa.
Rio, 17/04/2013.

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