Hoje
aprenderemos a fazer uma gaiola
E você
deverá ter em mãos
Muitas varetas
de bambu
Ou material
similar, mas resistente.
Principie por
afinar as varetas,
Uma a uma,
na dimensão do orifício
Onde passarão,
na armação de madeira:
A da
vergonha da própria nudez,
Ensinada na
primeira infância;
Depois a da
maldade
Diante de
outro corpo e do dito.
A da
religiosidade, que lhe impôs
Um deus
cruel e em permanente vigília,
Vasculhando as
suas intenções
Mais secretas,
todos os seus sentimentos,
Sem que lhe
sobre nenhum espaço
Para a
espontaneidade, a naturalidade.
A da
disciplina, que o faz curvado,
Propício às
ordens e orientações,
A não reagir
nunca diante da autoridade,
E entender
como autoridade
O que for de
senso comum, coletivo,
Ainda que
você discorde e se sinta mal.
A da
percepção da diferença que incomoda,
Preconceitua
e aparta, discrimina, faz pior:
Cor de pele,
opção sexual, nacionalidade,
Nível cultural,
quantidade de dinheiro
No bolso e
no banco, na bolsa e na alma...
E criticar e
criticar e criticar...
Porque isso
justifica a realidade.
A da
sonolência cerebral, que lhe faculta
O não
pensar, o aceitar sem questionar,
O que diziam
ao mais velhos, o que dizem
Todos agora,
na televisão, na igreja,
No programa
político partidário, nas ruas...
Em permanente
folga ao seu cérebro
Distraído nos
corredores dos shoppings,
Nos games,
realitys shows, novelas...
Tudo o que adormece
e anestesia.
Terminada esta
parte, com cuidado
Coloque as
varetas na armação,
Lixe, envernize,
passe para dentro,
peça a
alguém para fechar a portinhola,
e aguarde a
água e a ração salarial.
Se um dia se
cansar da situação,
Quebre as
varetas, uma a uma,
E então principie
a treinar
Até aprender
a voar.
Francisco
Costa
Rio,
31/08/2013.