sábado, 1 de junho de 2013

PARTILHO NÃO

Perdão, mulher, sei  bem o que você quer.

Não fossem os exemplos dos ancestrais,
Ainda assim a vida teria me ensinado, lúcida,
Que viver é partilhar. O meu sol de luz
É o teu sol e o de todas as coisas criadas.
O espaço que agora ocupo, logo será de outro,
E  o mesmo ar que me alimenta os pulmões
Daqui a pouco estará no teu, átomo a átomo.

Partilhamos tudo e de pessoais só os sentimentos.

Quando nasci, inaugurei o primeiro sorriso,
Dei o primeiro  passo... Partilhei sorrisos
Estampados nos rostos de meus pais.

Maior, aprendi a partilhar carícias, beijos, abraços,
Para logo partilhar orgasmos, lágrimas e saudades.

Quis a vida fazer-me voluntarioso e radical,
E me vi em microfones, palanques, trios elétricos
Partilhando a esperança, semeando melhores dias.

Nas greves partilhei a determinação. Nos piquetes,
A raiva que não entende o que é omissão;
Nas grades... Medo, ódio e apreensão...

E fui pro rádio, partilhar canções, a minha voz.

Depois partilhei filhos com o mundo, partilhei.
E mesmo adiante, quando me pensarem ausente,
Estarei ainda em doação, partilhando a mim mesmo
com vermes e micróbios, com a eternidade.

A vida, meus ancestrais, minhas observações...
Mostraram-me que vida é partilha permanente,
Divisão contínua, doação sem fim, dar-se.

Perdão, sei   bem o que você quer.
Mas... Não sei se por machismo, talvez egoísmo,
Não aprendi a partilhar mulher.

Francisco Costa

Rio, 04/12/2012

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