Perdão,
mulher, sei bem o que você quer.
Não fossem
os exemplos dos ancestrais,
Ainda assim
a vida teria me ensinado, lúcida,
Que viver é
partilhar. O meu sol de luz
É o teu sol e
o de todas as coisas criadas.
O espaço que
agora ocupo, logo será de outro,
E o mesmo ar que me alimenta os pulmões
Daqui a
pouco estará no teu, átomo a átomo.
Partilhamos
tudo e de pessoais só os sentimentos.
Quando
nasci, inaugurei o primeiro sorriso,
Dei o
primeiro passo... Partilhei sorrisos
Estampados
nos rostos de meus pais.
Maior,
aprendi a partilhar carícias, beijos, abraços,
Para logo
partilhar orgasmos, lágrimas e saudades.
Quis a vida
fazer-me voluntarioso e radical,
E me vi em
microfones, palanques, trios elétricos
Partilhando
a esperança, semeando melhores dias.
Nas greves
partilhei a determinação. Nos piquetes,
A raiva que
não entende o que é omissão;
Nas
grades... Medo, ódio e apreensão...
E fui pro
rádio, partilhar canções, a minha voz.
Depois
partilhei filhos com o mundo, partilhei.
E mesmo
adiante, quando me pensarem ausente,
Estarei
ainda em doação, partilhando a mim mesmo
com vermes e
micróbios, com a eternidade.
A vida, meus
ancestrais, minhas observações...
Mostraram-me
que vida é partilha permanente,
Divisão
contínua, doação sem fim, dar-se.
Perdão, sei bem o
que você quer.
Mas... Não
sei se por machismo, talvez egoísmo,
Não aprendi
a partilhar mulher.
Francisco
Costa
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