domingo, 2 de junho de 2013

PAPAIS NOÉIS DE ADULTOS (DIANTE DA INFINITA GRANDEZA)

Quando a noite cai
E divorciado da sensatez
Fujo de mim e viajo,
Percorro catorze milhões de anos,
Navegando galáxias distantes
Reverberando cintilações
De cores inusitadas, tons desconhecidos,
Pulsáteis, em redemoinhos de encanto
Consumado em bilhões de estrelas,
Onde nasce e se amamenta a vida,
Semeadura cósmica pululando incógnitas.

E venho aos átomos e seus segredos,
Gotículas de energia condensada matéria,
E os vejo no afã de casamentos e cópulas,
Por instantes efêmeros, utra rápidos,
Pondo-se na forma do todo criado,
O que se esparrama sobre nossos olhos
E o que se esconde na limitação,
Em segredos para os não deuses.

E vou a jardins, partículas de galáxias,
Átomos ordenados cores e formas,
Odores, sonoridade interrompendo o tédio,
Permanência de movimentos, trevas
Vencidas pelo que se quer e se faz luz,
Pálido esboço do todo que se permite.

Olho para a caminha ao lado
E lá dorme o meu filho, inocência e esperas.
Ele acredita em papai noel e ora natais,
Na esperança de mais presentes.

Sequer passa por sua cabecinha
A impossibilidade de que naquele saco
Vermelho de impressionar e acordar magia
Possa caber todos os brinquedos do mundo.

Não questiona a impossibilidade
Do bom velhinho, em uma só noite,
Visitar todas as crianças do mundo.
Nele só cabe fé e esperança, o não racional.

E lembro das minhas viagens e não entendo
As crenças em deuses tão pequenos,
Enclausurados em livros e sermões,
Com toda a sua grandeza revelada:
Desígnios, desejos, propósitos, ações,
Modus operandi. Olho de novo pro menino.

Um dia ele saberá que foi enganado
Como sei que as religiões me enganaram.

No deus que me anunciaram
Não cabe todos os segredos do mundo,
Todos os conhecimentos do mundo,
O mundo todo, todo mundo.

O criador é sempre maior que a criação.
E por não ver limites nas minhas viagens
Entendo que o deus que me anunciaram
É um outro papai noel, de adultos,
Com a mesma esperança do meu filho,
Que todo dia pode amanhecer natal.

Amo a inocência do meu filho.
Deus deve amar a nossa.

Francisco Costa

Rio, 29/05/2013.

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