domingo, 2 de junho de 2013

DE SONHOS E PESADELOS

Não sei o que são sonhos,
Não sei sonhar.
Estranho o que me dizem,
Essa capacidade noturna
De viajar no belo, no bom,
Como se em outro lugar.

Nunca saí daqui, nem quero.
O meu mundo sorri,
E sorrindo amamenta tudo:
O menino de mel nos lábios,
A menina de lirismo e fé.

Cá os homens se realizam
No que se bastam, realizados
Em trabalho e ócio contemplativo,
Ao lado de mulheres complemento.

As vezes faz sol, as vezes nubla,
Ocasionalmente chove, e flores
Se permitem molhadas e redivivas
Na dança da chuva.

Não sei sonhar mas sei dormir.
Em então vejo corpos ensanguentados,
Ribombar de bombas, miséria e fome
Escorrendo em agonia de prantos.

Vejo corredores iluminados, envidraçados,
Enfeitados com flores de plástico
E ruídos que se pretendem música.

Vejo pressa, vejo urgência, vejo medo
Prostrado em templos de gritos e uivos,
Com feras implorando a contenção.

Vejo fumaça, vejo filas, vejo corpos nus
Em rituais do supérfluo e passageiro.

Não sei o que são sonhos, não sei sonhar.
Como então pretendê-los?
Só sei o que são pesadelos.

Francisco Costa

Rio, 21/05/2013.

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