quarta-feira, 12 de junho de 2013

COMO SE FORA ORAÇÃO

Senhor, mantenha-me intacto,
Imune aos procedimentos do mundo,
Equívocos postados na realidade.

Livrai-me da frigidez da alma,
Maior e mais cruel que a frigidez feminina,
Fazendo-me imune aos apelos do que me sustenta,
Refratário ao que os meus sentidos me apontam.

Livrai-me da impotência da alma, a nos fazer pequenos,
Impróprios às doações e partilhas, como corpos gastos,
Em si contidos porque incapazes de acesso a outros.

Livrai-me da miséria, do último estágio da penúria,
Quando só nos resta o dinheiro e os bens materiais,
Iludindo-nos que em prosperidade e futuro.

Livrai-me dos fúteis, que se anexam ao transitório
E se fazem essência do não permanente, do ilusório,
E dos prepotentes de todos os matizes e credos:
Dos poderosos, vermes em espelhos enganosos,
Refletindo a impossibilidade de deter a história;
Dos sensuais, fazendo dos acessórios as suas essências;
Dos fanáticos religiosos, donos de verdades
postas
Em livros e verbos de autoria de semelhantes meus
Que se acreditaram cúmplices e porta-vozes de Deus,
Decifrados a Sua essência, natureza, propósitos,
Vontades, intenções, desejos... Repetindo meu filho
Sem saber que eu sou o papai noel. Perdoai a inocência.

Por fim, Senhor, fazei de mim o que fui um dia,
Despido de princípios, normas, leis, postulados,
Versículos, livros, tratados, teses, enunciados...
Reduzindo-me a partícula Vossa, não corrompida,
Para que eu possa iniciar um poema afirmando
Em primeiro verso: Senhor, mantenha-me intacto.

Francisco Costa

Rio, 08/06/2013.

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