sábado, 1 de junho de 2013

TEMPOS IDOS

Sou de um tempo em que as floreiras
Eram permanência de cores nas sacadas
E canções de amor escorriam nas calçadas.

Não havia tiroteios, senão nos filmes,
E nenhum cadáver era anônimo,
Porque pranteado por todos.

Tempo de namoradas pudicas e risonhas,
Guardando segredos e a própria virgindade
Em doações parciais e cuidadosas.

O anoitecer encontrava cadeiras nos portões,
Antes da novela no rádio, maridos e pais
Discutindo o providencial passe para o gol,
Determinando posições políticas, radicais,
com postura firme, conhecedora, determinada.

Não havia shoppings nem televisão, internet,
De maneira que as relações eram diretas,
Corpo a corpo, olhos nos olhos, hálitos recíprocos.

Agora cada homem está tão isolado em si
Que precisa de pontes tecnológicas,
Artefatos descartáveis, atitudes urgentes,
Decisões imediatas, para que se saiba não morto.

Sou de um tempo em que os sorrisos eram francos,
As lágrimas, sinceras, e beijos eram artigos caros,
Comprados com uma estranha moeda
Que guardávamos num estranho cofre
Chamado coração.

Sou de um tempo em que o tempo era lento,
Não corria, andava ao sabor do vento.

Tempos idos, os de outrora.
Tempos feridos, os de agora.

Francisco Costa.

Rio, 15/05/2013.

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