sábado, 1 de junho de 2013

SONHANDO ABRAÇOS (No dia do abraço)

Sonhei-me gigante, enorme,
maior do que tudo.

E estendi meus braços em abraços,
ora coletivo, em enlevo a povos
apátridas, nômades, implorando
reconhecimento internacional;

Abracei povos abandonados,
em lástima de mercê da própria sorte,
cavoucando caminhos, a séculos de nós;

Abracei povos iludidos, em aves à corte
que os oprime e contem, usam
em benefício de uns poucos;

Abracei povos de prepotência em armas,
ditando caminhos aos cúmplices,
se amamentando das vítimas,
sangrando dores e revolta nos resistentes.

Ora individual, em enlace a corpos únicos,
apartados porque cada homem, sozinho,
abracei a menina que em si gesta
feto e medo, apreensão, sem poder ousar
a santidade da maternidade porque na rua;

Abracei o menino drogado, apartado de si,
viajando ilusões parasitárias da morte;

Abracei operários transferindo de si
pedaços do próprio corpo à obra,
para vê-los postos no mercado
sem a devida contrapartida;

Abracei os que esperam milagres
e os que não esperam nada,
desiludidos com o que se mostra triste;

Abracei cada homem e cada mulher.
Os que se ofereceram ao abraço,
sorridentes e confiantes;
os indiferentes, que não perceberam o abraço;
e até os que se recusaram ao abraço.

Nenhum homem  ficou imune,
nenhum ficou impune.

Sonhei-me gigante, enorme,
maior do que tudo.
Sonhei-me Deus.

Francisco Costa
Rio, 22/05/2013.

(Dia do abraço)

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