sábado, 1 de junho de 2013

SÓ DESEJO

Se disser te amo, minto.
Que estou apaixonado, pior.

Ainda assim te quero,
Direito e avesso,
De pé ou ponta cabeça,
Deitada, no chão, na cama,
Ao sol, sob estrelas,
Molhados de chuva e tesão.

Quero-te como querem água
Os chegados de longas caminhadas,
Os que em si trazem a sede dos desertos,
Com a fome insaciável do náufrago à deriva,
Sal e saudade nos lábios secos de esperas.

Quero-te como se querem floradas
As ambições da primavera, com a urgência
De amante prestes a desatinos, assassinato
Do bom senso, morte da paciência já morta,
Erigida desejos, latejares, ânsia de corpos
Em comunhão de delírios, partilhas
De sonoros orgasmos feitos de quietude
E realização, nos momentos de depois.

Quero-te como se querem permanentes
Os de presença efêmera, mero lampejo
De desejos entre o eu não te conhecia
E o eu não me lembro mais.

Quero-te uma única vez, que seja,
Para matar o que me mata.

Francisco Costa

Rio, 18/04/2013.

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