quarta-feira, 12 de junho de 2013

OS ABESTALHADOS

Por mais que os evitemos, estão por aí,
Onipresentes, espalhando a impaciência,
A raiva, a revolta por existirem.

Não temos como nos livrar. Grudaram,
Colaram-se, aderiram em cada um de nós,
Como sarna ou caspa, suor sobre a pele.

Se ligamos os rádios, eis postas suas vozes,
Em lengas lengas e desculpas, justificativas
Para o injustificável, lama a mais no charco
Que edificaram e administram.

Diante da tevê, eis as mesmas caras e ares,
As mesmas máscaras de decência
Escondendo faces cruéis de pilhagem,
Manobras ilícitas, todo o próprio ao opróbrio
Que não os atinge, porque imunes à desonra
Os já desonrados, prostitutas em pose de donzelas.

Nos jornais, eles de novo e de novo cínicos,
Conjugando o verbo roubar
Em todos os tempos e modos,
Com a naturalidade das manhãs de sol.

Se nos mercados, infiltram-se em nós,
Fazendo morada em carrinhos e bolsas,
Fazendo-as mais leves por conta dos impostos,
Das taxas e multas que os sustentam.

Nas escolas, as mesmas caras nas lições;
Nas igrejas, o culto à indiferença a eles.

No nordeste brasileiro o adjetivo abestalhado
Sinonima parvo, retardado mental, engraçado.

Não é desses que falo, mas de outros abestalhados.
Dos que não lembram as bestas de pastos,
Simplórias, ignaras, ignorantes.

Falo das bestas do apocalipse,
Dos nossos governantes.

Francisco Costa

Rio, 07/06/2013.

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