(a todos os
que fazem de si,
querendo ou
não,
apêndices do
trabalho)
Homem, olha
a tua volta,
observa tudo
o que te rodeia:
nada que não
parido em tuas mãos.
De ti nascem
os instrumentos da paz
e em ti os
artefatos da guerra;
o que cinge
noites de amores e festas
ou descolore
em rituais de lágrimas;
o que se faz
edificação de riquezas
e o que
solapa e expurga, empobrece.
Sem mãos
humanas, nada de novo,
absolutamente
nada de diferente,
deixando o
planeta intacto, virgem,
como se de
ausência humana.
Edificas,
constróis, manuseias,
manipulas,
transformas, crias
em calos e
energia, devoção
de abelha
operária na consecução do mel,
formigas em
afã de não parar movimento.
Mesmo quando
em ócio e alheamento
há em ti a
doação de máquina parada
em descanso
como em reparo, pronta
para o
recomeço de usinar coisas
e modificar
os dias, as horas, o mundo
em
permanente mutação
porque
cativo da tua mão.
Sem trabalho
o homem não se justifica
porque as
atividades das mãos fazem o homem
tanto quanto
o homem predetermina a mão,
apêndice que
o faz em comunhão com tudo,
tudo
prolongamento da sua mão.
E sendo
assim, em tudo pedaços do homem,
cada coisa
pedaço do homem, como órgão que,
emancipado
do organismo continua a funcionar,
porque os
frutos de toda essa transformação
não retorna
a mão do homem, permanece fora,
longe, como
se os homens não tivessem mãos?
Em nome de
que se justifica apartar as mãos
e o
resultado da atividade das mãos, rosas
em pétalas
de permanente produção?
Como
entender que um homem de mão gasta,
corroída, doendo,
ferida, possa tê-la subtraída
alienada, a
serviço de outra mão?
Como aceitar
uma realidade posta em lei
que divorcia
mãos e mãos, determinando
a mão que
obra coisas novas e a que se apropria,
punga o que
se anuncia novo e fundamental?
Como
permitir mãos com fome, amargando
carências,
faltas, desejos, necessidades
e mãos
obesas, ornamentadas em anéis, pulseiras,
porque
parasitas, vermes postos em outras mãos?
Como dizer
natural uma sociedade de mãos
onde quase
todas dão sequência ao trabalho
enquanto
umas poucas dormem no trabalho,
como se
leito onde juntos dormem a injustiça
e a o
amadurecer de uma revolta de mãos?
Francisco
Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário