domingo, 2 de junho de 2013

MÃOS

(a todos os que fazem de si,
querendo ou não,
apêndices do trabalho)

Homem, olha a tua volta,
observa tudo o que te rodeia:
nada que não parido em tuas mãos.

De ti nascem os instrumentos da paz
e em ti os artefatos da guerra;
o que cinge noites de amores e festas
ou descolore em rituais de lágrimas;
o que se faz edificação de riquezas
e o que solapa e expurga, empobrece.

Sem mãos humanas, nada de novo,
absolutamente nada de diferente,
deixando o planeta intacto, virgem,
como se de ausência humana.

Edificas, constróis, manuseias,
manipulas, transformas, crias
em calos e energia, devoção
de abelha operária na consecução do mel,
formigas em afã de não parar movimento.

Mesmo quando em ócio e alheamento
há em ti a doação de máquina parada
em descanso como em reparo, pronta
para o recomeço de usinar coisas
e modificar os dias, as horas, o mundo
em permanente mutação
porque cativo da tua mão.

Sem trabalho o homem não se justifica
porque as atividades das mãos fazem o homem
tanto quanto o homem predetermina a mão,
apêndice que o faz em comunhão com tudo,
tudo prolongamento da sua mão.

E sendo assim, em tudo pedaços do homem,
cada coisa pedaço do homem, como órgão que,
emancipado do organismo continua a funcionar,
porque os frutos de toda essa transformação
não retorna a mão do homem, permanece fora,
longe, como se os homens não tivessem mãos?

Em nome de que se justifica apartar as mãos
e o resultado da atividade das mãos, rosas
em pétalas de permanente produção?
Como entender que um homem de mão gasta,
corroída, doendo, ferida, possa tê-la subtraída
alienada, a serviço de outra mão?

Como aceitar uma realidade posta em lei
que divorcia mãos e mãos, determinando
a mão que obra coisas novas e a que se apropria,
punga o que se anuncia novo e fundamental?

Como permitir mãos com fome, amargando
carências, faltas, desejos, necessidades
e mãos obesas, ornamentadas em anéis, pulseiras,
porque parasitas, vermes postos em outras mãos?

Como dizer natural uma sociedade de mãos
onde quase todas dão sequência ao trabalho
enquanto umas poucas dormem no trabalho,
como se leito onde juntos dormem a injustiça
e a o amadurecer de uma revolta de mãos?

Francisco Costa

1º de maio de 2013.

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