domingo, 2 de junho de 2013

BIOGRAFIA QUASE COMPLETA

Embora você não saiba,
nem desconfie,
Eu nasci para você.

Bebê ainda, erigindo-me gente
Preparava-me para o encontro,
Quando, vulnerável e tonto,
Eu me entregaria definitivo.

Na escola eu a vi em cada menina
E em cada menina antevi
Possibilidades de que ali estava.
Por isso namorador, procurando.

Cresci e adolesci, buscando
seus olhos e seu sorriso, seu sexo
Em cada silhueta delineada,
Em todas as possibilidades,
Certo de que em alguma habitaria.

Fiquei adulto, com o peso do mundo
Calejando as costas e a pensei
Revolucionária em alguma trincheira,
Discursando solidariedade e luta,
Me esperando entre combates.

Casei-me, plantei filhos e compromissos,
Depus armas, amenizei a contestação,
Modifiquei-me em calma, acomodação,
Mas sem perdê-la de vista, em procura
Entre amantes, amigas, concubinas...
Com a certeza de que a encontraria
E entre lençóis de encontros fortuitos
Você me dizendo: como demorou!

Em cada discurso a vi na multidão,
Nas platéias de congressos e conferências,
Em cada uma das minhas aulas, comigo
Aparentemente perdido entre átomos,
Dissecando mitocôndrias e cloroplastos,
Mas de olhos e ouvidos atentos, à sua cata.

Vieram as rugas, a maturidade, os netos...
Menos você, esperança tardia, musa
De todos os poemas, do primeiro
Ao que ainda dorme em mim, esperando
Que eu o faça letras em versos, escreva,
Em mistura de tinta e sangue, doendo.

Cansado da falta de parceria, solitário,
Passei o patrimônio, reduzi as roupas,
Pouco liguei para as deferências,
Me recusei referência,
E acampei aqui, entre telas e pincéis,
esse teclado e o cultivo de flores.

Sem mulheres por perto, cotidianas
Enfeitando os meus dias,
Já não a penso chegando, mas estando.

Quando me pensei pronto à sepultura,
Em final de mandato e legislatura,
Veio-me a notícia de prorrogação
Estampada em sua foto, na sua figura.

Francisco Costa

Rio, 31/05/2013.

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