Embora você não
saiba,
nem
desconfie,
Eu nasci
para você.
Bebê ainda,
erigindo-me gente
Preparava-me
para o encontro,
Quando,
vulnerável e tonto,
Eu me
entregaria definitivo.
Na escola eu
a vi em cada menina
E em cada
menina antevi
Possibilidades
de que ali estava.
Por isso
namorador, procurando.
Cresci e
adolesci, buscando
seus olhos e
seu sorriso, seu sexo
Em cada
silhueta delineada,
Em todas as
possibilidades,
Certo de que
em alguma habitaria.
Fiquei
adulto, com o peso do mundo
Calejando as
costas e a pensei
Revolucionária
em alguma trincheira,
Discursando
solidariedade e luta,
Me esperando
entre combates.
Casei-me,
plantei filhos e compromissos,
Depus armas,
amenizei a contestação,
Modifiquei-me
em calma, acomodação,
Mas sem
perdê-la de vista, em procura
Entre
amantes, amigas, concubinas...
Com a
certeza de que a encontraria
E entre
lençóis de encontros fortuitos
Você me
dizendo: como demorou!
Em cada
discurso a vi na multidão,
Nas platéias
de congressos e conferências,
Em cada uma
das minhas aulas, comigo
Aparentemente
perdido entre átomos,
Dissecando
mitocôndrias e cloroplastos,
Mas de olhos
e ouvidos atentos, à sua cata.
Vieram as
rugas, a maturidade, os netos...
Menos você,
esperança tardia, musa
De todos os
poemas, do primeiro
Ao que ainda
dorme em mim, esperando
Que eu o
faça letras em versos, escreva,
Em mistura
de tinta e sangue, doendo.
Cansado da
falta de parceria, solitário,
Passei o
patrimônio, reduzi as roupas,
Pouco liguei
para as deferências,
Me recusei
referência,
E acampei
aqui, entre telas e pincéis,
esse teclado
e o cultivo de flores.
Sem mulheres
por perto, cotidianas
Enfeitando
os meus dias,
Já não a
penso chegando, mas estando.
Quando me
pensei pronto à sepultura,
Em final de
mandato e legislatura,
Veio-me a
notícia de prorrogação
Estampada em
sua foto, na sua figura.
Francisco
Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário