domingo, 2 de junho de 2013

NO DIA DE CORPUS CHRISTI

Eis-me em prostração a teus pés,
Em sincero esforço de humildade,
Não para súplicas, rogos ou pedidos.

Vim só para falar o que sempre calo,
Escondo, por presunção ou vaidade:
Te acho a mais perfeita e bem acabada
Forma humana. Modelo e exemplo.

Tu és o que caminhou na lama
Mergulhou na lama, convivendo
Com os da lama porque de lama,
E saíste limpo, incólume, imune,
Sem manchas ou nódoas, máculas,
Mostrando o difícil mas não impossível.

Este talvez o teu lado divino,
Mas há o outro, onde bebi:

Bem poderias ter te curvado a César,
Contado histórias a Pilatos,
Ter permanecido anônimo e medíocre
Na marcenaria de teu pai.

Mas diante do próprio destino,
Anunciado como de sangue e fúria,
Foste de fronte erguida e peito aberto.

Teu compromisso? Tua consciência.
Tua arma? Tua coerência.
E os poderosos ouviram não.

Julgando em vil tribunal
De cartas marcadas, ouviram não.
Batendo e cuspindo, ouviram não.
Impondo o suplício e a tortura,
Continuaram a ouvir não e não.

Em sangue e chagas, dentes trincados,
Quando já, exangue, não podias dizer não,
Balbuciou, sussurrou, só insinuou: não!

Este o maior dos teus ensinos.
A essência do teu legado,
A maior lição: estar pronto para dizer não,
Sem medir preço ou consequência, punição.

Pra mim essa a tua maior lição:
Viver e morrer com determinação,
Fiel à própria consciência e convicção,
Abrir mão do sim fácil e insistir no não.

Por isso estou aqui, a teus pés, humilde,
Para pedir forças e coragem, determinação,
Para continuar dizendo não
Por mim e pelos que não aprenderam a dizer,
Enquanto eu estiver escravo da indignação.

Francisco Costa

Rio, 30/05/2013.

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