domingo, 2 de junho de 2013

TRATADO DE RATOLOGIA

Eu abomino o rato, roedor ladino
em sombra do homem, desde os primórdios.

De variadas espécies e variadas raças,
excetuando os Polos, não há lugar que se pise
que não haja ratos.

Ninguém, seja das classes A, B, C, D... Z pode dizer:
nunca comi ou bebi nada que não tivesse
urina, fezes ou pelos  de ratos.

Nos campos, silos, paióis, porões de navios, armazens,
pátios de secagem e estoque, granjas, abatedouros,
fábricas de alimentos, áreas urbanas e rurais,
centrais distribuidoras... Nas redes de esgotos
e em nossas próprias casas estão eles, na santa paz.

É provável que não haja um único ser humano
que nunca tenha visto um rato.

Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo
desses íntimos roedores, para cada rato visto
sete outros completam a família.

Um terço de todo o alimento produzido pela humanidade
é consumido pelos ratos, ou inutilizado pela contaminação:
fezes, urina, pelos ou pela simples presença,
contato com os malditos ratos.

Entre os seus predadores estão aves de rapina,
répteis (cobras e lagartos) e pequenos felinos.

O Homem não é considerado predador dessa espécie,
mas espécie concorrente, porque de mesmos hábitos
e mesmo nicho ecológico, fazendo quase iguais
Homens e ratos.

E que igualdade de comportamentos,
hábitos, desempenho, são esses?

Entre os mamíferos, só os humanos e os ratos matam
o semelhante por parceiro sexual, espaço ou comida.

Só os humanos e os ratos mostraram
capacidade de abstração, de idealizar situações futuras,
em proveito próprio e detrimento do próximo.

Só os humanos e os ratos exploram semelhantes,
da  mesma espécie, ponto-os para trabalhar para si.

Há uma guerra surda, silenciosa, entre homens e ratos,
todo um aparato químico e de armadilhas,
com escaramuças mútuas, ataques
de estratégias bem estudadas:
nunca dê um veneno de efeito  imediato, fulminante,
 a um rato. Você só matará um rato.

Envenenado, aos primeiros sintomas,
Ele fugirá para a colônia, para morrer
Diante dos semelhantes.

Não se sabe ainda se por grunhidos  ou feromônios
(substâncias com cheiros específicos, para comunicação),
ele comunica a todos os outros a presença do veneno,
e nenhum outro comerá. Por isso as iscas, os pelets
de efeito retardado, só percebido por eles já tarde,
quando toda a colônia já comeu e caminha para o fim.

Mas não basta, estamos perdendo a guerra, infelizmente.

Conscientes de que em táticas de guerrilha e terrorismo
não nos destruiriam, se infiltraram entre nós, e miméticos,
vestidos como nós ou de toga, farda... Assumiram o poder.

Discursam, elaboram leis, comandam exércitos, polícias...
Nos administrando, de acordo com a conveniência deles.

Sábios, substituíram os venenos de efeito imediato,
feito de armas, cárceres, exílio, banimento e tortura,
pelas pelets e iscas da morte disfarçada e coletiva,
a que deram o nome de política econômica,
 veneno de ratos para matar gente.

Francisco Costa

Rio, 09/04/2013.

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