quarta-feira, 12 de junho de 2013

EM RESPOSTA A BILAC

(Ao amigo Eduardo Ramos, que, segundo ele,
tem um coração bastardo,
amigo do meu, vagabundo.)

“Ora, direis, ouvir estrelas”, já disse alguém.
Ouço-as, e me falam sempre indiretas,
Em subterfúgios, disfarces, só sugestões
Apontando o que nem sempre vejo
E poucos veem, porque, de tão cotidianos
E simples, em permanência anunciada,
Passam calados sob nossos sentidos.

As estrelas? Elas me dizem dos amanheceres
Amarelos e entardeceres laranjas,
Avermelhando-se, para dormir negro
Salpicado delas falando comigo.

Dizem dos corpos femininos, em gemido e gozo,
Imunes a amanheceres, entardeceres, noites,
Sempre prontos, em oferenda ao instante.

Dizem quando empurram flores nos caminhos
E acordam a fauna, sonoridade que se ostenta,
E assopram o mar, para fazer ondas e marolas.

Mas dizem também quando falam de fome
E sede e cansaços e carências, de mortes
Postas sobre os olhos dos que sabem ver.

Dizem quando me obrigam ao verso,
Para que eu diga o que elas me dizem.

Vê, Bilac? Ouvir estrelas não é privilégio só teu.
Faladeiras o tempo todo, não calam nunca,
Caçando aqueles capazes “de ouvir estrelas”.

Francisco Costa

Rio, 06/06/2013.

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