Quando vem a
noite, meu quarto se povoa
e choro
ausências, corpos distantes,
sorrisos sem
hálitos, vozes silenciosas.
São os
mortos do meu passado,
os que
enterrei em sepulturas
e os que se
enterraram na distância,
mortos
também porque não os vi mais.
Dos mortos
de verdade guardo saudades
resignadas,
comedidas, contidas, doces
como
ansiedade de criança em aniversários.
Já dos
mortos na distância, vivos ainda,
mas longe de
mim, saudade desmedida,
inconformada,
em desejo de urgência,
como o
náufrago em sofreguidão de ar.
A
individualidade é quimera, ilusão.
Somos o
somatório de convivências,
coletâneas
de palavras ouvidas,
coleções de
conselhos e canções,
relicários
de beijos e abraços,
compilações
de chegadas e partidas,
coletivos de
lágrimas e sorrisos,
cada
impressão em cada minuto,
todos os
instantes da existência.
Esta a
tristeza da velhice,
a
impossibilidade de rejuntarmos os cacos
que,
dispersos, nos espalharam pelo mundo.
Talvez por
isso a morte, a necessidade
de que
dispersa a alma, se disperse
o corpo
também.
Francisco
Costa
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