sábado, 20 de julho de 2013

EM SI MESMO

Amanhece. Diante do mar o homem chora.
Há um menino moreno correndo, a pipa
Em aéreo balé de estranho pássaro, arisco
Separando o azul e o menino de peito nu.

Adiante, quase adolescente, outro menino
Divide olhares sobre o livro e o infinito,
Encontro de céu e água, realidade e sonhos.

De um lado uma família, a criançada dispersa
Na areia, entre gritos e correrias, sorrisos
Diante da mãe preocupada, o pai, realizado.

Do outro lado um senhor e sua velhinha,
Passeando calmos, calados, de mãos dadas.

Então o homem abre os olhos e faz escuro,
Não há amanhecer nem praia, nada azul.
E entende que o menino e o adolescente,
O pai e o velhinho de mãos dadas na praia
É ele em contemplação de si mesmo.

E sozinho chora o mar que secou,
O infinito que se reduziu,
Ele mesmo, quase nada.

Francisco Costa

Rio, 17/07/2013.

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