sexta-feira, 27 de setembro de 2013

EU, O ESTRANHO?

Estranham que eu, o empresário,
O homem bem sucedido,
Pretensamente dominante
Numa sociedade de dominados,
More em casebre rural.

Estranham que eu, ser político
Que discursou para multidões,
Me esconda na casca do anônimo
De enxada na mão carpindo mato
E edificando flores e pássaros.

Estranham que eu, o locutor
De programação romântica,
Em permanente incitação ao sexo,
Viva só, em viuvez auto imposta,
Casado só com livros e discos.

Estranham a ausência dos carros,
De estadia em balneários, os dotes
Comprados, alugados, arrendados,
Mostrando-me macho em atividade.

Estranham (agora, os meus filhos)
A retirada igual à dos funcionários,
O que me faz imune às tentações
Do que pode o dinheiro, o capital,
E solidário de verdade aos iguais.

Estranham o que se recusa burguês
E não saca as armas do poder,
Entre bichos, plantas  poemas,
Aguardando a definitiva libertação.

Estranham porque inocentes,
Sem saber da beleza posta nos dias
E que se mostra nas coisas mais simples,
Longe dos shoppings e holofotes.

E mais estranham as minhas exigências
Na política, na justiça, no social: Divisão!
 Justo eu, que de pouco a ganhar
E muito a dar, segundo eles, tudo a perder.

Estranham-me tão estranho,
Sem saberem que também os estranho.

Francisco Costa

Rio, 16/09/2013.

Um comentário:

  1. "Justo eu, que de pouco a ganhar
    E muito a dar, segundo eles, tudo a perder.

    Estranham-me tão estranho,
    Sem saberem que também os estranho."

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