sexta-feira, 27 de setembro de 2013

ANIVERSÁRIO DE PABLO

Em algum canto por aí,
Talvez mesmo por aqui,
Um homem aniversaria.

Mais que homem nas tardes,
Seu corpo desmedia fomes
E engolia bibliotecas, livros,
Pouco comedido, voraz,
Na imparcimônia sem limites
Do que se quer total.

E mais comia, o sol e o mar,
Quando não ocupado em camas,
Esgrimando em superação do amor.

Nada lhe passou que não fosse fome,
Engolindo ávido todo ao alcance,
Até a miséria, o despropósito estranho
De não ter o que comer.

E comeu isso também, bom de garfo,
Refestelando-se em solidariedade,
Até que inchado tanto de tanto comer
Passou a regurgitar palavras e sons
Em ritmo de criar consciência.

A quarenta anos, no Chile de Pinochet
Com raiva, de raiva a raiva morreu.

Agora contam os de ouvidos sensíveis
Que quando o mar bate nas pedras
Pode-se ouvir: Pablo, Pablo, Pablo...

Respondido por consciências rebeldes
E corpos femininos em contorsão,
Manchando os sorrisos dos contentes:
Neruda, Neruda, Neruda, Neruda...

Em momentos assim de magia
Nada resiste, nem a poesia,
Que também se desnuda.

Francisco Costa
Rio, 23/09/2013.

(quarenta anos da morte de Neruda, hoje)

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