terça-feira, 10 de setembro de 2013

Eu estive na guerra.
Não, eu nunca dei um tiro
Ou participei de combates,
Mas estive na guerra.

Meu pai, sim. Este esteve.
Arrastou no solo nevado da Itália
Um minguado corpo de 1,62 m,
E pouco mais de meio cento de quilos,
Pouco no espaço para conter a coragem,
E voltou ainda menor, amputado de partes
Que fariam falta para sempre.

Lá longe deixou alguns dentes, o sorriso,
A capacidade de poder viver em paz,
Fazendo dos dias plágios dos dias de guerra.
Uma trovoada... Uma bomba,
Uma discussão... Uma ordem de ataque,
E mesmo o sono, oferenda ao alheamento,
Era nele oportunidade de retorno
E permanência no que não acabou nunca.

Cresci a seu lado, em guerra, na guerra.
Ex combatentes são aqueles
Que jamais conhecerão a paz.

Obama agora matará a todos.
Muitos terão seus cadáveres enterrados,
Muitos carregarão os próprios cadáveres
Para sempre, nas costas, sem descanso
E sem alívio, até que o enterrem,
Quando enfim, para eles,
Terá chegado a paz.

Malditos sejam os senhores das guerras!
Piedade para os que morrem inteiros,
E mais piedade para os mortos pela metade,
A arrastarem os próprios cadáveres,
Na difícil lição de reaprender a sorrir.

Francisco Costa

Rio, 06/09/2013.

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