Acúmulo de
sentires no corpo cansado,
Ela poderia
estar tricotando no sofá da sala,
Aguando as
plantas no quintal, ou no quarto,
Cochilando
anjos e lembranças de amores.
Poderia ser
nossa mãe, cálice que nos verteu,
Talvez nossa
avó, mãe em estágio de anjo,
Qualquer
vizinha em passos miúdos, lentos,
No caminho
da missa ou do médico, à espera
De bálsamos
e paliativos vestidos de pílulas.
Saiu de sua
pátria em caminho inverso,
Sem farda e
sem armas, para semear a morte.
Suas armas
foram mãos caridosas em doação,
Voz doce e
delicada em oferenda, consolos,
Enxugares de
testas e curas de feridas.
Mas logo
entendeu que não era praga de Deus
O que
assolava e minguava o povo na miséria.
Pior que o
sol e os micróbios, os vermes, são
Os
latifundiários, os donos do capital, e reagiu.
Imprópria a
gatilhos e munição, atirou bondade,
Fez explodir
granadas de oração, escopetas
De comida partilhada,
bombas de puro amor
Caminhando
na selva amazônica, nos igarapés
De vitórias
régias, peixes, pobres e sangue.
E denunciou,
denunciou, denunciou... Sabendo
Apartar o
que de César e o que de Deus,
Cobrando dos
cobradores de impostos
O quinhão devido
aos donos da terra, da selva,
Porque
partes da selva como as formigas e araras.
E então
viajou para colher os frutos do semeado.
Não, não foi
de avião, metálica ave em voo e som,
Menos em
lombo de burro ou barco, em lancha
Ou
automóvel. Por ser longa e definitiva a viagem,
Não pode
levar bagagem, foi de seis tiros.
Agora contam
que quando venta na tempestade
E os troncos
das árvores se roçam, em atrito sonoro
Repetem:
dorothy, dorothy, dorothy... Respondidos
Pelas ondas
dos rios nas pedras: stang, stang, stang...
Ouvidos por
um anjo que sorri sobre os garimpos,
Os seringais,
as roças e palafitas, sobre todos e tudo,
Orando uma
estranha oração que fala de latifúndio,
Justiça e
Jesus; coragem, insistência, persistência e luz.
Francisco
Costa
Rio, 20/09/2013.
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