terça-feira, 7 de maio de 2013

QUASE QUASE (MAS TÔ DE VOLTA)


Perdão, amigos,
pela ausência temporária.

Acometeu-me súbito perigo,
ou mal súbito, como disse o doutor
diante de mim todo em dor.

Inchei como um balão,
fiquei gordo, gordão
como se de saúde possuído,
mas de corpo todo combalido.

Foi ausência compulsória,
não coisa pretendida.

Mandaram-me de volta,
não estou mais interno.
Voltei pra fila de novo:
não tinha vaga no inferno.

Nunca me pensei cibernético,
no meio de tanto médico,
todo ligado a terminais elétricos,
diante dos filhos, olhares tétricos, 
como se em em contagem regressiva
para a inevitável premissa
já contabilizando as despesas
de funeral e missa.

Minha alma vai continuar aqui,
perdida, em poemas escondida,
ainda não personagem de história
ou lastimando a mulher que pretendi.

Todo mundo aliviado: sobreviveu!
Todos menos uma:  - que droga!
O miserável não morreu!
Não repare, minha sogra.

Mais inchado que conta
bancária de deputado
confesso o meu orgulho
na hora do banho:
nunca o vi daquele tamanho.

Ah! Quase tinha me esquecido
do laudo do exame,
quase causa mortis:
prazo de validade vencido.

Usaram todo o arsenal químico:
penicilina, estreptomicina...
Por pouco terra em cima.

Negociei com o diabo,
até que gente fina:
anjo da guarda de político,
ele também gosta de propina.

No paradoxo da agonia,
um instante de poesia
enfeitando minha cabeceira:
eu moribundo, ela todabunda,
que fêmea, a enfermeira!

E um aviso à namorada:
já estou recuperado.

Embora de carne magra,
continuo meio tarado
ainda não careço de viagra.

Mamãe, mantenha-se calma,
não se desespere:
enrolei até o diabo,
ele que me espere!

E sem se afobar.
Pretendo demorar.

Francisco Costa
Rio, 30/03/2013

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