No rescaldo
do meu infortúnio inventario o que me sobrou,
essas mãos
cansadas de cavar peitos frios; gritar, rouco,
a ouvidos
mocos, adormecidos no que lhes falam, cotidianos,
os
estelionatários das palavras: pastores, padres, políticos...
Todos os
próceres da vaselina social, em malditos conselhos
de suportar
a dor do estupro por que há paraísos e céus, depois.
Esses olhos
gastos, corroídos por tantas lágrimas, inutilmente
postas nas
dobras dos dias, porque poucas para hidratarem
o seco das
misérias, o desidratado das carências, o não úmido
que mora na
desonestidade e na exploração, na submissão
da alienação
imposta pelo trivial e temporário, anexado
ao fardo
pesado dos inconscientes sorrindo de si próprios.
Esses
ouvidos pouco afeitos a preces, rezas e orações...
Porque
comércio, merchandising, marketing, picaretagem
dos que
impõem freios à história, trancafiam o homem,
prometem
paraísos aqui, poucos e pequenos, do tamanho
da
ignorância que os alimenta; distante dos risos dos satisfeitos,
surdo aos
que clamam venha também, você pode, você sabe.
Essa boca
cansada de clamar em vão, de discursar a toa,
de proferir
palavras gastas de tão repetidas, carcomidas
pela erosão
do que se contrapõe, som mais alto anunciando
o
absolutamente inútil, o frívolo, o trivial, o que não se eterniza
porque feito
para durar pouco, descartável, manuseado rápido
porque
rápido se desfaz, sai de moda, envelhece, perde valor.
Esse coração
cansado, todo remendado, com crateras, buracos,
soldas,
colas, emendas, esparadrapos... A custo sustentando-se,
ser híbrido
de anjo e demônio exorcisando lágrimas, abençoando
sorrisos,
chegadas, orgasmos, saciedade de barrigas cheias...
Pastando no
semelhante porque pedaço de mim, ainda que apartado,
separado,
sem saber que, clandestino, habito em cada um deles.
Francisco
Costa
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