terça-feira, 7 de maio de 2013

OUVINDO STING (FRAGILE)


No rescaldo do meu infortúnio inventario o que me sobrou,
essas mãos cansadas de cavar peitos frios; gritar, rouco,
a ouvidos mocos, adormecidos no que lhes falam, cotidianos,
os estelionatários das palavras: pastores, padres, políticos...
Todos os próceres da vaselina social, em malditos conselhos
de suportar a dor do estupro por que há paraísos e céus, depois.

Esses olhos gastos, corroídos por tantas lágrimas, inutilmente
postas nas dobras dos dias, porque poucas para hidratarem
o seco das misérias, o desidratado das carências, o não úmido
que mora na desonestidade e na exploração, na submissão
da alienação imposta pelo trivial e temporário, anexado
ao fardo pesado dos inconscientes sorrindo de si próprios.

Esses ouvidos pouco afeitos a preces, rezas e orações...
Porque comércio, merchandising, marketing, picaretagem
dos que impõem freios à história, trancafiam o homem,
prometem paraísos aqui, poucos e pequenos, do tamanho
da ignorância que os alimenta; distante dos risos dos satisfeitos,
surdo aos que clamam venha também, você pode, você sabe.

Essa boca cansada de clamar em vão, de discursar a toa,
de proferir palavras gastas de tão repetidas, carcomidas
pela erosão do que se contrapõe, som mais alto anunciando
o absolutamente inútil, o frívolo, o trivial, o que não se eterniza
porque feito para durar pouco, descartável, manuseado rápido
porque rápido se desfaz, sai de moda, envelhece, perde valor.

Esse coração cansado, todo remendado, com crateras, buracos,
soldas, colas, emendas, esparadrapos... A custo sustentando-se,
ser híbrido de anjo e demônio exorcisando lágrimas, abençoando
sorrisos, chegadas, orgasmos, saciedade de barrigas cheias...
Pastando no semelhante porque pedaço de mim, ainda que apartado,
separado, sem saber que, clandestino, habito em cada um deles.

Francisco Costa
Rio, 14/03/2013.

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