terça-feira, 7 de maio de 2013

OUVINDO BEE GEES


Entre o meu sorriso e a eternidade cabe tudo,
como num baú de tamanho infinito, aberto
em voracidade de refeição sem fim, glutão.

Cabe aquela lágrima insuspeita e surpreendente,
amanhecida dos vazios interiores, vácuos de dor
reclamando preenchimentos urgentes, ocupação,
para que o homem não morra de ausências.

Cabe a primeira gota da chuva vespertina,
seus reclamos de fêmea enfurecida chorando
relâmpagos e trovoadas, espalhando lágrimas
nos telhados e jardins, amamentando, incipiente,
a força da terra fazendo-se flores e frutos, pássaros.

Cabe o infinitesimal átomo que se acaba em luz
e a galáxia inalcansável, pura cor no firmamento,
abstração que se faz concreta e possível, próxima
como uma abelha edificada em zumbidos e pólen.

Cabe um verso inacabado no bilhete do suicida
e um beijo de língua e saliva, polinização da vida
em todo o seu esplendor de fenômeno que edifica,
embora tão frágil e curta.

Cabe o sexo, voracidade de armagedons em curso,
anunciando explosões de carnes e sentidos
reduzidos ao êxtase do momento primeiro,
apartando o tempo em duas metades, antes e depois.

No baú da eternidade cabe tudo e muito mais:
o insuspeito e o conhecido, o entrevisto e o visto,
o vivido e o por viver, cada poema que nasce
na anunciação da alvorada e morre no entardecer,
reencarnado versos novos na noite, saídos
de lençóis e cobertores, ou natimortos
no estar só entre lençóis e cobertores.

Cabe perguntas de respostas imediatas e claras
e o que não tem respostas, cada resposta
e o respondido em silêncio.

Ter a posse desse baú é saber-se pequeno e tosco,
limitado no tempo e no espaço, simples incógnita
desfazendo-se em versos e dores,
em parto permanente, parindo espanto e contemplação.

Francisco Costa
Rio, 05/03/2013.

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