Entre o meu
sorriso e a eternidade cabe tudo,
como num baú
de tamanho infinito, aberto
em
voracidade de refeição sem fim, glutão.
Cabe aquela
lágrima insuspeita e surpreendente,
amanhecida
dos vazios interiores, vácuos de dor
reclamando
preenchimentos urgentes, ocupação,
para que o
homem não morra de ausências.
Cabe a
primeira gota da chuva vespertina,
seus
reclamos de fêmea enfurecida chorando
relâmpagos e
trovoadas, espalhando lágrimas
nos telhados
e jardins, amamentando, incipiente,
a força da
terra fazendo-se flores e frutos, pássaros.
Cabe o
infinitesimal átomo que se acaba em luz
e a galáxia
inalcansável, pura cor no firmamento,
abstração
que se faz concreta e possível, próxima
como uma
abelha edificada em zumbidos e pólen.
Cabe um
verso inacabado no bilhete do suicida
e um beijo
de língua e saliva, polinização da vida
em todo o
seu esplendor de fenômeno que edifica,
embora tão
frágil e curta.
Cabe o sexo,
voracidade de armagedons em curso,
anunciando
explosões de carnes e sentidos
reduzidos ao
êxtase do momento primeiro,
apartando o
tempo em duas metades, antes e depois.
No baú da
eternidade cabe tudo e muito mais:
o insuspeito
e o conhecido, o entrevisto e o visto,
o vivido e o
por viver, cada poema que nasce
na
anunciação da alvorada e morre no entardecer,
reencarnado
versos novos na noite, saídos
de lençóis e
cobertores, ou natimortos
no estar só
entre lençóis e cobertores.
Cabe
perguntas de respostas imediatas e claras
e o que não
tem respostas, cada resposta
e o
respondido em silêncio.
Ter a posse
desse baú é saber-se pequeno e tosco,
limitado no
tempo e no espaço, simples incógnita
desfazendo-se
em versos e dores,
em parto
permanente, parindo espanto e contemplação.
Francisco
Costa
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