Restrito a
só um corpo e ansiedades,
estaria eu
condenado a só mais um,
mero
mamulengo nas mãos da vida,
não fosses
tu, amante amigo,
cúmplice em
tapas e beijos,
em casamento
duradouro e estável.
Preso em tuas mãos caminhei reinos
de
impossível suposição fora de ti
penetrando
portas e janelas, umbrais
onde se
escondem possibilidades
e se revelam
verdades, óbvias e reais.
Em tuas asas
voei espaços imaginários
e conheci
fórmulas, e princípios, e leis,
e postulados,
e teoremas, e axiomas,
e dísticos,
ditados, verbetes, poemas
romances,
contos, crônicas, tratados...
Todo o capaz
de romper correntes,
anular a
gravidade, fazer levitar,
enlevado e
surpreso em tuas páginas.
Em momentos
de só carne e desejo
eu te abri
como se abre pernas,
e sôfrego,
arfando animalidade
e energia
vital, amei imaginações,
apaixonei-me
personagem,
jurei-me a
persecução do só criado.
Presença
constante, viajamos juntos,
em ônibus,
barcos, aviões... No tempo,
fazendo do
tédio viagem interior.
E junto
permanecemos, tu na cabeceira,
enquanto eu
dormia o lido, sonhando
tuas
palavras no mais íntimo de mim.
Mesmo quando
explodi em indignação,
os hormônios
da raiva empapando órgãos,
e me lancei
ao mundo em palavras ditas,
escritas,
foi repetindo o que aprendi em ti.
Isso! Sou
teu plágio, eco de afirmações,
constante
repetir do pescado em teu mar,
não mais que
teus parágrafos e capítulos
exercitando-se
sonoridade no mundo.
Por isso me
curvo hoje, senhor e escravo,
parasita
parasitado, amante inimigo,
fazendo de
mim mais que comum,
só mais um,
como um primata
de terno, não
saber e gravata.
Sem tua
existência permanente,
em todos os
instantes,
diuturno e
constante,
eu estaria
mutilado,
com um
pedaço do espírito amputado.
E se um dia,
morto,
saído daqui,
me
perguntarem
o que fiz de
bom,
responderei:
amei e li.
Francisco
Costa
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