terça-feira, 14 de maio de 2013

MORRO DO BUMBA


É chegada a temporada de chorar mortos.

Nem sempre chove morros ou faz-se mar
O córrego inocente onde moram rãs e lixo.

Só na temporada de chorar mortos.

Choramos mortos o ano todo, é certo,
Porque grande é a semeadura e maior
A colheita de corpos na lavra diária.

Mas nos janeiros, maior a exuberância
Do espetáculo: aquele, soterrado;
Este, esmagado por pedra ou muro
Aqueloutro de susto, fome ou engano.

É, é chegada a temporada de chorar mortos.

Das encostas descem lama, pedregulhos
Árvores, cadáveres, defuntos, mortos.

E por ironia a legislação exige óbito,
Exame cadavérico, investigações médicas
Quando, torpe endemia, a causa mortis
Se repete e se faz coletiva: incúria.

Francisco Costa

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