É
chegada a temporada de chorar mortos.
Nem sempre chove morros ou
faz-se mar
O córrego inocente onde moram
rãs e lixo.
Só na temporada de chorar
mortos.
Choramos mortos o ano todo, é
certo,
Porque grande é a semeadura e
maior
A colheita de corpos na lavra
diária.
Mas nos janeiros, maior a
exuberância
Do espetáculo: aquele,
soterrado;
Este, esmagado por pedra ou
muro
Aqueloutro de susto, fome ou
engano.
É, é chegada a temporada de
chorar mortos.
Das encostas descem lama,
pedregulhos
Árvores, cadáveres, defuntos,
mortos.
E por ironia a legislação
exige óbito,
Exame cadavérico,
investigações médicas
Quando, torpe endemia, a
causa mortis
Se repete e se faz coletiva:
incúria.
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