Morrer
integralmente.
Não ver o
mar que ondula,
Encrispa,
ascende, eriça,
Avança,
retrocede, espuma,
Se embala e
cai.
Dar as
costas à selva que,
Árvore ou
relva,
Alastra,
entorta, fura,
Recorta, se
espraia e vai.
Morrer
totalmente.
Ficar frio e
morto, pálido e torto
Exumando-se
em recordações,
Lembrado-se
de vis decepções e,
Por cúmulo,
sorrir no túmulo.
Não ver a
folha bailar leve
O bailado da
morte
Na brisa que
sopra na cova.
Morrer
completamente.
Não ter que adubar olhos a lágrimas,
Parar de
cometer versos,
Não ver o
sol prenhe de promessas,
A noite vã,
a chuva que cai.
Morrer sem
mesmo um aviso na surpresa.
Ficar
amarelo e com um inseto na testa,
Sem nem
mesmo receber o diploma,
Sem esperar
a vez na fila, abandonar o pão.
Morrer sem mesmo
pagar as contas e os contos,
Sentir-se
pasto de vermes e ver-se como tal,
Tal qual
sempre se foi: frio, estático, já morto.
Alimentar
com o resto da vitalidade do corpo
Uma estranha
e sinistra flor que se ensaia,
Meneia,
curiosa, pelas brechas da vida,
Dormir
sabendo que não haverá alvorada.
Morrer sem
deixar um nome,
Um prenome,
um sobrenome.
Morrer pura
e simplesmente,
Como o
orvalho que cai
Ou a rosa
que murcha e não é choramingada.
Morrer no
alheamento do que ficou,
Borbulhante
em sangue ou subitamente,
Como quem
dorme.
Morrer
verdadeiramente, de corpo e alma
E não pela
metade, de mentirinha,
Como sempre,
em vida, estivemos mortos.
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