terça-feira, 7 de maio de 2013

DE CONCRETO E AÇO, O POEMA


De repente o céu vira coisa, objeto,
e o espaço torna-se palpável, sólido,
prontos para receberem poemas geométricos.

Do nada materializam-se vértices, quinas,
ângulos em conluio com o sol, pura poesia.

Como se brotados do chão, uns,
flutuando sobre as águas, outros,
são pura harmonia de concreto e aço,
presença humana a violar o espaço.

Pirâmides prontas para a eternidade,
polígonos escrituram-se beleza nas tardes,
perfeições nas manhãs, luminosidade na noite,
presença obrigatória por todo o sempre.

Mas poemas de só retas não bastam,
há que se delinear o litoral de praias,
a inserção do humano nas linhas do relevo,
as curvas das muitas mulheres amadas,
e sinuosas linhas multifacetam-se vivas,
em reverência às musas, aos morros e ao mar.

Sim, gênios são humanos, e humanamente
próximos de copos, cigarros, madrugadas...
E o poeta das formas se quis e se fez  igual a nós,
a qualquer um de nós, reverentes, encantados.

E encarnou na política, musa de maldição
em regimes de exceção, e foi encarcerado,
exilado, e triste foi plantar beleza longe,
em rincões mais bem aventurados.

Arquiteto, projetista, poeta, comunista, gente,
como eu ou você, afeito à vida, contrário
à injustiça, ao vazio de paisagens e de idéias.

Niemayer, não morrestes nem morrerás,
vives e viverás eternamente nos corações
dos que amam a beleza, veneram a partilha,
fazem dos desafios o pão nosso de cada dia.


Não tema o que te espera pois, mesmo materialista
nesses  tempos de profundo materialismo
soubestes e proferistes oração  única, a maior:
 “amarás ao teu próximo como a ti mesmo”

Vai que o teu caminho é de luz
e o nosso só não mais escuro
porque tua obra clareia, acende, dignifica,
como testemunho de que passastes por aqui.

Rio, 05/12/2012

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