De repente o
céu vira coisa, objeto,
e o espaço
torna-se palpável, sólido,
prontos para
receberem poemas geométricos.
Do nada
materializam-se vértices, quinas,
ângulos em
conluio com o sol, pura poesia.
Como se
brotados do chão, uns,
flutuando
sobre as águas, outros,
são pura
harmonia de concreto e aço,
presença
humana a violar o espaço.
Pirâmides
prontas para a eternidade,
polígonos
escrituram-se beleza nas tardes,
perfeições
nas manhãs, luminosidade na noite,
presença obrigatória
por todo o sempre.
Mas poemas
de só retas não bastam,
há que se
delinear o litoral de praias,
a inserção
do humano nas linhas do relevo,
as curvas
das muitas mulheres amadas,
e sinuosas
linhas multifacetam-se vivas,
em
reverência às musas, aos morros e ao mar.
Sim, gênios
são humanos, e humanamente
próximos de
copos, cigarros, madrugadas...
E o poeta
das formas se quis e se fez igual a nós,
a qualquer
um de nós, reverentes, encantados.
E encarnou
na política, musa de maldição
em regimes
de exceção, e foi encarcerado,
exilado, e
triste foi plantar beleza longe,
em rincões
mais bem aventurados.
Arquiteto,
projetista, poeta, comunista, gente,
como eu ou
você, afeito à vida, contrário
à injustiça,
ao vazio de paisagens e de idéias.
Niemayer, não
morrestes nem morrerás,
vives e
viverás eternamente nos corações
dos que amam
a beleza, veneram a partilha,
fazem dos
desafios o pão nosso de cada dia.
Não tema o
que te espera pois, mesmo materialista
nesses tempos de profundo materialismo
soubestes e proferistes
oração única, a maior:
“amarás ao teu próximo como a ti mesmo”
Vai que o
teu caminho é de luz
e o nosso só
não mais escuro
porque tua
obra clareia, acende, dignifica,
como
testemunho de que passastes por aqui.
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