terça-feira, 7 de maio de 2013

BRIGANDO COM O CÂNCER (Pra Sedja Simone Costa, minha filha, na luta, nesse dia mundial de combate ao câncer)


Escolha aleatória do destino?
Cochilo de Deus ou consentimento divino?
Determinação genética?
Pagamento por semeaduras pretéritas,
ou nada disso instaurando insegurança?

O certo é que um caranguejo te rói por dentro
e há que se matar o bicho, antes dos filhotes.

E há que pensar positivo, de modo otimista,
certa de que mesmo de piores sabores
todos os alimentos trazem nutrientes.

Na busca do nicho propício, o bicho poderia
ter fixado residência em órgãos dos sentidos
e breve estarias muda, surda, talvez cega.

O destino da chegada poderia ser órgão vital:
pulmões, rins, fígado, cérebro... Determinando
inexorabilidade de retorno, sequelas iminentes.

Morasse em alguma perna e estarias pronta
às muletas, à cadeira de rodas, ao amparo...
com a vida totalmente modificada, e para pior.

Inquilino de algum braço, estarias interdita
a prestar carícias, tomar das ferramentas
que nos fazem animais diferentes: canetas,
pincéis, teclados, vassouras, martelos...
jogando-te na passividade inativa dos irracionais.

Mas, por escolha do destino, cochilo de Deus,
determinação genética... Fostes abençoada,
aquinhoada com as chances da recuperação:
tendo o teu organismo inteiro para habitar,
escolheu a glândula mamária, supérflua carne
quando já se tem duas filhas definitivas, adultas.

Teus cabelos estão caindo? E daí? Que se rasgue
a embalagem e permaneça intacto o conteúdo.
Estás insegura? Não mais do que diante do fim
de uma grande briga, de velório de mãe querida,
e você é sobrevivente disso e, agora, sobreviverá.

Como nada é aleatório e se faz em golpes de sorte,
o caranguejo que agora te acomete foi plantado
em ato pretérito que não sabes e purgas em medo.
Ou não. Sendo, agradece a oportunidade de paga.
Não sendo, agradece a oportunidade de investimento,
fruto plantado agora para crédito de colheita adiante.

Luta! Luta porque em orações, vigílias, torcida, atenção,
um bando de também doentes adoeceram contigo.
E todos querem, precisam se curar contigo.
Olha só a tua responsabilidade: levantar todo mundo,
devolver todo mundo à normalidade. Torcemos todos.

Francisco Costa
Rio, 07/04/2013.

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