quarta-feira, 8 de maio de 2013

AS BOAS NOVAS DE AGORA


Ontem, condicionado pelo clima geral
Depois de muitos anos de distanciamento,
Talvez por fazer natal, fui a um templo.

Disposto à comunhão com o meu próximo
E mais, com todas as coisas criadas,
Cheguei nu, despido da desconfiança,
Do coração crítico, do ceticismo disciplinado.

Sentei-me, pronto e atento, concentrado.

O culto começou e, para meu espanto,
Ouvi, travestidas em palavras divinas,
As mesmas coisas que anunciam na televisão
Ou leio nos letreiros das lojas e publicações.

Aos que têm ouvidos de ouvir foi dito
Que a salvação é individual, independente
Da sorte do semelhante que, se saciado
Ou desfazendo-se em fome, é natural.

Merece porque ainda não aceitou a doutrina
Ou Deus tem um propósito na disseminação
Da dor, do caos, da desesperança, do sofrimento.

A seguir o porta-voz das vontades divinas
Solicitou que se formasse uma corrente.
Animei-me, tomado de esperanças.
Corrente implica união, concentração de forças.

E vieram as evocações, os pedidos implorados:
Bom andamento para o processo desse
Ou que se agilizasse o retorno do namorado daquela,
Pagamento urgente da dívida ao irmãos credor,
Dinheiro ou argumentos para o irmão devedor
Empregos, pagamentos de salários atrasados...

Não pedimos pelos que apodrecem nas esquinas,
Entre medos, feridas e dor; muito menos
Pelos que sangram em campos de batalhas,
Sem tempo para entender por que estão ali
Matando, antes de morrer. Piedoso, o porta-voz
Poupou os agricultores da política:
Os que plantam miséria, irrigam as necessidades
E colhem em proveito próprio o alheio subtraído.

Não, disso nada disse, salvo que em um dia abençoado
Encontrarão a doutrina e, para eles, tudo mudará.

E chegou o momento das doações, das ofertas
Antecedido de prédicas convincentes e doutorais
Me apontando que deus mede a minha fé e o meu amor
Em reais, dólares e euros, passaportes, salvo condutos
Para a minha própria salvação.

Terminou o culto. Mais uma decepção.

Em casa repassei o ensinado na infância,
A parábola do filho pródigo, a divisão dos pães  e peixes
O acudir a aleijados e leprosos, a solidariedade
O entregar-se, em holocausto, à cruz e aos espinhos,
Por amor ao próximo, o daí a César o que é...
A revolta e o inconformismo  pelo comércio na casa do Pai.

E me iluminei numa explosão de fé e agradecimento:
Eu estive perto de Deus, convivi com anjos em preces
Partilhei de um instante mágico e transcendental:

Diante de tanta obscuridade e egoísmo mental,
De tanto coração duro, individual.
Tanta escuridão, tanta omissão social
Só mesmo um Deus poderoso para iluminar. 

Por  Onipresença Dele e necessidade nossa,
Ele também estava lá.
Ganhei meu natal.

Francisco Costa
Rio, 22/12/2012.

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