Ontem,
condicionado pelo clima geral
Depois de
muitos anos de distanciamento,
Talvez por
fazer natal, fui a um templo.
Disposto à
comunhão com o meu próximo
E mais, com
todas as coisas criadas,
Cheguei nu,
despido da desconfiança,
Do coração
crítico, do ceticismo disciplinado.
Sentei-me,
pronto e atento, concentrado.
O culto
começou e, para meu espanto,
Ouvi,
travestidas em palavras divinas,
As mesmas
coisas que anunciam na televisão
Ou leio nos
letreiros das lojas e publicações.
Aos que têm
ouvidos de ouvir foi dito
Que a
salvação é individual, independente
Da sorte do
semelhante que, se saciado
Ou
desfazendo-se em fome, é natural.
Merece
porque ainda não aceitou a doutrina
Ou Deus tem
um propósito na disseminação
Da dor, do
caos, da desesperança, do sofrimento.
A seguir o
porta-voz das vontades divinas
Solicitou
que se formasse uma corrente.
Animei-me,
tomado de esperanças.
Corrente
implica união, concentração de forças.
E vieram as evocações,
os pedidos implorados:
Bom
andamento para o processo desse
Ou que se
agilizasse o retorno do namorado daquela,
Pagamento
urgente da dívida ao irmãos credor,
Dinheiro ou
argumentos para o irmão devedor
Empregos,
pagamentos de salários atrasados...
Não pedimos
pelos que apodrecem nas esquinas,
Entre medos,
feridas e dor; muito menos
Pelos que
sangram em campos de batalhas,
Sem tempo
para entender por que estão ali
Matando,
antes de morrer. Piedoso, o porta-voz
Poupou os
agricultores da política:
Os que
plantam miséria, irrigam as necessidades
E colhem em
proveito próprio o alheio subtraído.
Não, disso
nada disse, salvo que em um dia abençoado
Encontrarão
a doutrina e, para eles, tudo mudará.
E chegou o
momento das doações, das ofertas
Antecedido
de prédicas convincentes e doutorais
Me apontando
que deus mede a minha fé e o meu amor
Em reais,
dólares e euros, passaportes, salvo condutos
Para a minha
própria salvação.
Terminou o
culto. Mais uma decepção.
Em casa
repassei o ensinado na infância,
A parábola
do filho pródigo, a divisão dos pães e
peixes
O acudir a
aleijados e leprosos, a solidariedade
O
entregar-se, em holocausto, à cruz e aos espinhos,
Por amor ao
próximo, o daí a César o que é...
A revolta e
o inconformismo pelo comércio na casa do
Pai.
E me
iluminei numa explosão de fé e agradecimento:
Eu estive
perto de Deus, convivi com anjos em preces
Partilhei de
um instante mágico e transcendental:
Diante de
tanta obscuridade e egoísmo mental,
De tanto
coração duro, individual.
Tanta escuridão,
tanta omissão social
Só mesmo um
Deus poderoso para iluminar.
Por Onipresença Dele e necessidade nossa,
Ele também
estava lá.
Ganhei meu
natal.
Francisco
Costa
Rio,
22/12/2012.
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