As cidades são feias,
E qualquer letreiro estampado
Sobre as copas das marquises
Não vale a mais humilde flor.
O concreto é feio, o cinza é frio
E os pigmentos da construção civil
Mascaram apenas o feio com o feio
Como contas que se repetem
Monótonas e mesmíssimas
Num rosário que não lembra rosas.
O homem urbano é triste
E como um inseto na sala
Longe da mata e do mato
Circunda quinas e cantos
Tentando entender os móveis
Como paisagens naturais.
A música da cidade é feia
Repete bate-estacas e britadeiras
Banha fervendo na frigideira
Incitando estranhos movimentos
De dançarinos possuídos
Em frenesi de transe e catalepsia.
Os dias nas cidades são tardes
De sol eclipsado nos prédios
E nebulosidades interiores
Como velórios de entes queridos.
Cidades são aquários onde adejam
Mariposas acinzentadas
Acreditando-se borboletas coloridas
Livres dos vidros.
Cidades são túmulos com formigueiros
Onde se encarnam velhas lembranças
Rurais, campesinas a serem ocupadas
Por novas cidades, até que o planeta
Se torne tumor único de solidão e tédio.
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