segunda-feira, 6 de maio de 2013

Vendedor De Ilusões

Vendedor De Ilusões
Eu, o palhaço, maquiagem
escondendo-me em cores.
Gestos trôpegos, pândegos,
humoradamente ridículo.

Eu, incapaz de gerenciar os meus prantos
e por no passivo das dores tantos desencantos.

Eu, estranhamente estranho a mim mesmo,
tateando-me singularidade num  espaço diminuto,
impróprio aos trâmites do todo pretendido,
mero acaso supondo-se coisa importante,
passaporte para o que se supõe pronto e definitivo.

Eu, balé sem música, cor no escuro, pura pretensão
de ocupar o já ocupado, e me estabelecer concreto
onde mais não cabe que a ânsia de caber.

Eu, o sem ascendência e sem descendentes, só,
como se supõem os apartados do que é sensato,
procurando-se em palavras, em cores e formas,
em impostura do que finge porque sabe perdida
a última possiblidade de se encontrar, em si mesmo
recolhendo aplausos no picadeiro da frustração.

Eu, palhaço declamando em vão, reclamando a toa,
nada mais que um lamento alinhado com o tempo,
cantando o meu próprio lamento, como se coisa boa.

Eu, simples palhaço, sem maquiagem e sem platéia,
vestindo-me para mais um espetáculo, na cochia,
disfarçado em versos para fingir que trago a poesia.

Francisco Costa.
Rio, 20/04/2013.

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