Descobri-me
soropositivo de amor.
E eu já o
imaginava nos sintomas,
alterações
metabólicas, sensíveis:
taquicardias,
respiração acelerada,
letargia de
flor no sereno, molhada.
Vou agora à
terapia, à diagnose
de melhoras
que espero não esperar:
versos
soltos, sorrisos fáceis, medos,
impaciência
permanente, desejos.
Pronto à
alquimia doce do tratamento
me
submeterei a um arsenal químico:
injeções de
beijos, soros de abraços,
drágeas de
arrepios, comprimidos.
Começarei a
inchar, a me avolumar
e não me
conterei mais em mim
bem
comportado, politicamente correto,
exemplo a
ser seguido, modelo de tudo,
porque
doente, soropositivo de amor.
Crescerei,
ficarei impossibilitado
de
diagramações, formatações...
Sem me caber
em mim num terceto,
numa quadra,
em rimas, num soneto,
porque não
mais um poema na tarde
mas a tarde
inteira, verdadeira orgia
de sensações
desarvoradas, desordenadas,
alando-me,
homem, em qualquer coisa,
talvez outra
coisa, ou só poesia.
Francisco
Costa.
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