terça-feira, 7 de maio de 2013

SOROPOSITIVO


Descobri-me soropositivo de amor.
E eu já o imaginava nos sintomas,
alterações metabólicas, sensíveis:
taquicardias, respiração acelerada,
letargia de flor no sereno, molhada.

Vou agora à terapia, à diagnose
de melhoras que espero não esperar:
versos soltos, sorrisos fáceis, medos,
impaciência permanente, desejos.

Pronto à alquimia doce do tratamento
me submeterei a um arsenal químico:
injeções de beijos, soros de abraços,
drágeas de arrepios, comprimidos.

Começarei a inchar, a me avolumar
e não me conterei  mais em mim
bem comportado, politicamente correto,
exemplo a ser seguido, modelo de tudo,
porque doente, soropositivo de amor.

Crescerei, ficarei impossibilitado
de diagramações, formatações...
Sem me caber em mim num terceto,
numa quadra, em rimas, num soneto,
porque não mais um poema na tarde
mas a tarde inteira, verdadeira orgia
de sensações desarvoradas, desordenadas,
alando-me, homem, em qualquer coisa,
talvez outra coisa, ou só poesia.

Francisco Costa.
Rio, 14/01/2013.

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