(Um poema irado e futurista,
para o amigo
alienado,
que nessa
vida é turista,
nesse
primeiro de maio,
com ares de
primeiro de abril,
talvez para
rimar com Brasil)
Enquanto o
monstro crescia sorrateiro,
disfarçado
nos corredores políticos,
tu estavas
na igreja, transferindo a Deus
as
atribuições humanas, esperando
dEle soluções e iniciativas tuas e só tuas.
Mais
traiçoeiramente agia impune,
comprando a
oposição em dinheiro vivo,
cargos
comissionados, ministérios,
secretarias...
Mais dançavas nos pagodes,
nos forrós,
nos funks... Todo dia carnaval.
Aliava-se o
monstro aos da pior estirpe,
os que comem
crânios e esvaziam cérebros:
latifundiários,
empresários do inútil,
mercadores
dos templos, falsos profetas,
cleptocomunistas
privatizantes, liberais
amantes de
ditaduras de silêncio e morte...
E tu
declinavas versinhos de amor, cantando
dores de
cotovelo, chifres incômodos,
boas vindas
aos orgasmos em exercício,
à chegada de
amante novo, mais orgasmos.
Enquanto o
monstro, em voracidade titânica,
não só se
amamentou na corrupção e no roubo,
mais que de dinheiro,
de valores e do futuro,
tu estavas
atento à escalação da seleção,
gastando as
tuas energias preciosas e caras,
nos dois
sentidos, para gritar gol.
Mais
assanhava-se o monstro em avidez,
mais ousava
penetrar em tuas entranhas,
mais atento
estavas ao capítulo da novela,
em complexos
cálculos, sofisticados raciocínios,
para saber
quem seria eliminado do reality show.
O monstro
calou o ministério Público
e tu
permaneceste calado também;
calou o
Supremo Tribunal Federal,
e calado
permaneceste junto;
por fim
calou o Congresso Nacional,
transformando
em cartório de homologação,
porque impondo
voz única, sem oposição,
e o teu
silêncio continuou, em suicídio.
Mais o
monstro se esmerava em repastar tudo,
menos
informado estavas, lendo o horóscopo,
os resumos
das novelas, poeminhas de amor
(desde que
não maiores que sonetos, ler cansa),
o resultado
da loteria, as fofocas do hight society,
edificando-se
matéria prima da ditadura em curso.
Agora
amargas esse silêncio imposto,
não mais
opcional, mas obrigatório.
Agora choras
o pouco pão e o silêncio,
o risco de
simplesmente existir, de estar vivo,
mais um na
manada que se fez ordenada
e se mantém
em disciplina pelos peões do monstro.
Agora é
provável que a tua consciência acorde
e então
descobrirás que a única arma possível,
capaz de
matar o monstro, faz doer e sangrar,
não são mais
palavras nem atitudes pacíficas.
E verás
filhos teus nas masmorras, na tortura,
pelo crime
de não orar pelo catecismo único,
maldizendo o
silêncio dos próprios pais, outrora.
Se tiveres
consciência, conspirarás em cada minuto,
alienando a
vida à resistência e à revolta,
em
permanente vigilância, com a morte no portão.
Se
continuares o que és, continuarão os gols, os bailes,
as festas,
os carnavais, os capítulos das novelas,
poeminhas de
amor e sexo, livrinhos de auto ajuda...
Nas igrejas,
alternando-se em agradecer a Deus
a existência
do monstro ou pedindo que Deus o mate,
porque em ti
a única coerência é não ter coerência.
Será assim,
uma planície de silêncios voluntários
e uivos
amordaçados, nascidos da tua omissão.
Este o mundo
que ajudaste a construir, parabéns,
o legado que
passarás a teus filhos e netos,
a herança
que deixarás num inventário de maldição,
de pouco
pão, tristeza, silêncios e humilhação.
Não lastime
se a tristeza é muita e a realidade dura.
Pela
omissão, tu és um artífice dessa cruel ditadura.
Francisco
Costa
Rio, 1º de
maio de 2013.
(Já vi esse
filme e sei como termina. Guarde esse
poema, para
ser relido daqui a alguns anos,
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