terça-feira, 7 de maio de 2013

NÃO MÁQUINAS


Só máquina, frio e indiferente organismo,
sem vida,  alheadamente inanimado,
de estranhas entranhas metálicas, frias,
feitas de chips, circuitos, plaquinhas...
Muito diferente dos organismos de carne.

Só máquina, não mais, intermediando bits
de ações, executando operações
em matemáticos algoritmos sem vida,
reproduzindo o digitado, escaneado,
fotografado... Digitalizando informações.

E adoeço e me aparto, como que amputado
de parte de mim, cyborg acoplado nela,
na máquina, extensão de mim em comunhão
com outras máquinas, partes de outros.

E me recupero e me reacoplo, reimplanto-me
em seus circuitos, pondo-me em rede,
retornando ao meu tempo e meu espaço.

E leio votos de pronta recuperação,
lástimas pela involuntária ausência,
declarações de saudades, reclamações
dos que não sabiam o que ocorria,
poemas dedicados a mim... Tudo soando
como disfarçadas declarações de amor.

Soa e funciona como complemento da terapia,
e entendo, finalmente, que, mais que ferramenta,
simples complemento do meu cérebro,
meu pc é extensão do meu coração, é poesia,
e a descoberta de que não estou só,
habito realidades virtuais e corações reais.

E como agradecer, senão fazendo
a única coisa que sei fazer?
Tome este poema, todos os meus poemas.
Eu os fiz para você.

Francisco Costa
Rio, 29/03/2013.

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