EU, COMUNISTA? (Em resposta a um tontinho)

Quem comunista, eu?

Só porque acho que a cada um

de acordo com as suas necessidades,

e de cada um,

de acordo com as suas possibilidades?

Eu, comunista? Só porque vejo nas mãos

instrumentos de carícias e construção,

e não afeitas a pedidos e súplicas,

à mendicância e à humilhação?

Então me achas comunista! Mas só porque

acredito que o homem faz a riqueza

e a riqueza não faz o homem, enquanto indivíduo?

Comunista... Você é engraçado. Só porque

a minha miopia não enxerga fronteiras,

a minha surdez não conhece idiomas,

o meu faro não detecta raças...

Comunista! Vai ver que vê nos meus versos

ranços de Neruda e Maiakowsky, talvez de Lorca

ou qualquer poeta outro que escreveu a sangue

e fez da caneta arma de fogo no paredão da insensatez.

Acredita nisso mesmo? Que sou capaz de acreditar

que o trabalho é fonte de prazer e realização

e não de alienação de si próprio ao patrão?

Só porque não oro pela cartilha dos tontos

e não vejo em carros novos, amantes que voltam

empregos conseguidos... Graças alcançadas?

Só porque acredito que a suprema graça

é a saciedade do corpo bem alimentado,

cuidado com as pílulas da ciência,

as poções mágicas da arte,

os ungüentos da filosofia

e a sedução do semelhante que se fez igual?

É. Prometo pensar nisso, que sou comunista,

mas não espalha.

Vão dizer que quero fechar igrejas, estuprar velhinhas

raptar crianças e atrapalhar o movimento nos shoppings.

Francisco Costa

Rio, 13/04/2012.