Duas bombas
no coração da América,
dois tapas,
dois murros, dois tiros
na
prepotência e na intocabilidade.
Que se chore
da cena no palco,
mas sem
esquecer das ações nos bastidores,
motivação da
cena que rola no cenário posto.
Hipócrita a
mídia, tolos os que se espelham
na mídia,
carneirinhos no caminho do abatedouro,
lastimando
simples arranhão no corpo do senhor,
enquanto
morre pelo câncer imposto pelo senhor.
Sim, que se
pranteie duas mortes norteamericanas,
mas sem
esquecer das mortes iraquianas, afegãs,
coreanas,
vietnamitas... Por bombas mais poderosas,
vomitadas
por aviões do império hoje ferido.
Que se
lastime a espécie humana mais pobre,
ceifada de
dois de sua espécie, mas sem esquecer
dos ceifados
em cárceres políticos, torturados,
mortos de
morte anônima, financiada pelo império,
em secreto
terrorismo fabricando cadáveres.
Ao legista
político não cabe lastimar a morte,
mas buscar a
causa mortis, o agente motivador,
o que se
esconde nos cadáveres postos na imprensa.
Estranha a
espécie humana, que fez de si presa
e predadora
de si mesma, lastimando porque morre
e se
esquecendo que mata.
Enquanto
metade da humanidade estiver morrendo
de fome,
miséria, carências, doenças endêmicas...
E a outra
metade estiver morrendo de obesidade,
ócio, consumismo
e fartura, haverá combates.
Às vezes
declarados e abertos, em guerras,
quase sempre
velados, em escaramuças, terrorismo.
Agora haverá
investigação e punição. Adiantará?
Ações
pontuais só marcarão posições,
reafirmarão
a disposição
de manter intactos os agentes motivadores.
Pela ótica
dos feridos se lastimando, ato abominável.
Pela ótica
dos que feriram, legítima defesa.
Sim, porque
conforme já afirmado:
“aquele que
mata o seu senhor,
seja em que
circunstância for
age em
legítima defesa.”
Hoje há dois
cadáveres nas ruas de Boston
e milhares
nas ruas do mundo.
Detonaram
duas bombas em Boston,
muitas
bombas no mundo.
As de
Boston, de pólvora e barulho,
fumaça e
indignação, manchetes e lástimas.
As do mundo,
de fome e silêncio,
doenças e
descaso, anonimato e indiferença.
A mãe dessas
bombas não são homens.
Paridas no
capital, só explodem
porque de
convivência impossível
obesos e
famintos, fortuna e miséria,
vontade de
ganhar dinheiro e necessidade de comer.
Jogaram duas
bombas em Boston.
Francisco
Costa
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