terça-feira, 7 de maio de 2013

DUAS BOMBAS EM BOSTON


Duas bombas no coração da América,
dois tapas, dois murros, dois tiros
na prepotência e na intocabilidade.

Que se chore da cena no palco,
mas sem esquecer das ações nos bastidores,
motivação da cena que rola no cenário posto.

Hipócrita a mídia, tolos os que se espelham
na mídia, carneirinhos no caminho do abatedouro,
lastimando simples arranhão no corpo do senhor,
enquanto morre pelo câncer imposto pelo senhor.

Sim, que se pranteie duas mortes norteamericanas,
mas sem esquecer das mortes iraquianas, afegãs,
coreanas, vietnamitas... Por bombas mais poderosas,
vomitadas por aviões do império hoje ferido.

Que se lastime a espécie humana mais pobre,
ceifada de dois de sua espécie, mas sem esquecer
dos ceifados em cárceres políticos, torturados,
mortos de morte anônima, financiada pelo império,
em secreto terrorismo fabricando cadáveres.

Ao legista político não cabe lastimar a morte,
mas buscar a causa mortis, o agente motivador,
o que se esconde nos cadáveres postos na imprensa.

Estranha a espécie humana, que fez de si presa
e predadora de si mesma, lastimando porque morre
e se esquecendo que mata.

Enquanto metade da humanidade estiver morrendo
de fome, miséria, carências, doenças endêmicas...
E a outra metade estiver morrendo de obesidade,
ócio, consumismo e fartura, haverá combates.

Às vezes declarados e abertos, em guerras,
quase sempre velados, em escaramuças, terrorismo.

Agora haverá investigação e punição. Adiantará?
Ações pontuais  só marcarão posições, reafirmarão
a disposição de manter intactos os agentes motivadores.

Pela ótica dos feridos se lastimando, ato abominável.
Pela ótica dos que feriram, legítima defesa.

Sim, porque conforme já afirmado:
“aquele que mata o seu senhor,
seja em que circunstância for
age em legítima defesa.”

Hoje há dois cadáveres nas ruas de Boston
e milhares nas ruas do mundo.

Detonaram duas bombas em Boston,
muitas bombas no mundo.

As de Boston, de pólvora e barulho,
fumaça e indignação, manchetes e lástimas.
As do mundo, de fome e silêncio,
doenças e descaso, anonimato e indiferença.

A mãe dessas bombas não são homens.

Paridas no capital, só explodem
porque de convivência impossível
obesos e famintos, fortuna e miséria,
vontade de ganhar dinheiro e necessidade de comer.

Jogaram duas bombas em Boston.

Francisco Costa
Rio, 16/04/2013.

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