“E tomando
de dois ovos,
Um de casca
clara,
E outro, de
casca rósea,
Quebrou-os,
e apontando
Para gemas e
claras,
Perguntou:
digam-me agora
Qual de
casca rósea,
Qual de
casca clara!”
(Capítulo
zero, versículo nenhum)
Falo-vos de
outros homens,
Diferentes
aos olhos e só,
Porque de
gemas mesmas
E mesmas
claras.
Vestidos de
outras peles,
Cósmica
negritude posta pigmento,
Adubaram com
suor a história,
E na
história, mais que argumento,
Fizeram-se
força motriz de impulsão.
Não vos
falarei de homens no eito,
Menos das
torturas nos pelourinhos,
Ou da
animalização compulsória
Em navios
negreiros e senzalas.
Antes, falo
de quilombos e combates.
Não de uivos
e gemidos, de choros,
Mas de gritos
ódios lacerando senhores,
De gemidos
surdinas em regaços negros,
De sorrisos
todo dentes na negritude.
Falo-vos da
dignidade, da altivez,
Da
identidade cunhada em heroísmo,
Forjada no
trabalho,
Emancipada
na rebelião.
E se por
nada tivesse que escrever,
Se nada ou
quase nada a agradecer,
Agradeceria
orgasmos em ventres brancos
De
sinhazinhas enamoradas, negrificadas,
Inaugurando
mulatas, miscigenação
De
identidades disfarçadas em cores,
Exuberância
encarnada gente, fêmeas
Em desfiles
de puro frenesi estético,
Avarias no
que se pretende calmo, indiferente.
Falo-vos não
de outros homens,
Mas de
homens de mesma gema
E mesma
clara, lembrando-nos hoje
O que por
negligência, nos esquecemos:
Nosso berço
é negro, e nossa mãe,
Como toda
mãe, escorrer de delícias,
Tem ventre
generoso e doce, macio e quente,
E atende
pelo nome de mamãe África.
“E tomando
de dois ovos,
Um de casca
clara, e outro,
De casca
rósea, quebrou-os,
E apontando
Para gemas e
claras,
Perguntou:
digam-me agora:
Qual de casca
rósea,
Qual de
casca clara!”
(Capítulo
zero, versículo nenhum)
Francisco
Costa
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