terça-feira, 7 de maio de 2013

BESOURO


Sonhei-me inseto.
E não me pensei coisa pouca,
desprezível e só no jardim.

Longe de Gregor Sansa,
não nasci talhado a livros,
às inquirições dos tratados
justificando-me personagem.

Antes, eu era só um besouro,
luciluzir de tons metálicos
movendo-me na grama.

Seis patinhas e duas antenas
explorando o insuspeitado
para os homens, insetos
de duas pernas, poucas,
e sem antenas, incapazes
de ir longe e se localizarem
no mundo.

Mas ousam,
e insufucientes a si
amealham inutilidades,
a que por estrita vergonha
nomeiam cultura.

Se soubessem, coitados,
como é fácil e bom
caminhar na grama
não teriam inventado o sorriso.

Só é capaz de sorrir
quem sabe o que é chorar.

Francisco Costa.
Rio, 16/01/2013.

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