terça-feira, 7 de maio de 2013

O BEIJO


Sou de um tempo em que nascíamos para beijar.
Não havia encontros ou despedidas sem beijos.
Beijos de chegadas, beijos de partidas, beijos...

Beijava-se pai, mãe, tio, vô, cada parente,
convivente ou aparecido de repente,
e até os que de parente só considerados.

Beijava-se professoras, colegas de escola...
Quem estivesse ao alcance.
E cresci, e descobri haver beijos outros.

Beijei rostos, beijei pernas, e em cada beijo posto
mais gosto em mais beijar, até romper limites.

Beijos calados, beijos sonoros, beijos sequinhos,
Beijos molhados. Beijos só selinhos e beijos...
Ah! Sofreguidão de línguas ávidas enroscando-se
em puro cio sujando lençóis, molhando a noite.

Aqueles de línguas só tocadas, de línguas esfregadas,
e os que se fizeram loucos famintos em línguas chupadas.

Beijos, como abster-me se fui feito para beijar,
para impor as minhas digitais de lábios em cada rosto,
cada boca, cada... Onde houvesse pele e vontade.

Mas se disser que nunca neguei beijos, minto.
Não me arrependo, e se decepcionei, sinto.
Por mais que tenha beijados pés, dedos, tornozelos,
jamais beijei os pés do opressor, do ditador...
Jamais me emprestei os lábios ao prepotente que,
por mais que esperasse meu beijo, julgou-se meu senhor.

Francisco Costa.
Rio, 11/02/2013.

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