Sou de um
tempo em que nascíamos para beijar.
Não havia
encontros ou despedidas sem beijos.
Beijos de
chegadas, beijos de partidas, beijos...
Beijava-se
pai, mãe, tio, vô, cada parente,
convivente
ou aparecido de repente,
e até os que
de parente só considerados.
Beijava-se
professoras, colegas de escola...
Quem
estivesse ao alcance.
E cresci, e
descobri haver beijos outros.
Beijei
rostos, beijei pernas, e em cada beijo posto
mais gosto
em mais beijar, até romper limites.
Beijos
calados, beijos sonoros, beijos sequinhos,
Beijos
molhados. Beijos só selinhos e beijos...
Ah!
Sofreguidão de línguas ávidas enroscando-se
em puro cio
sujando lençóis, molhando a noite.
Aqueles de
línguas só tocadas, de línguas esfregadas,
e os que se
fizeram loucos famintos em línguas chupadas.
Beijos, como
abster-me se fui feito para beijar,
para impor
as minhas digitais de lábios em cada rosto,
cada boca,
cada... Onde houvesse pele e vontade.
Mas se
disser que nunca neguei beijos, minto.
Não me
arrependo, e se decepcionei, sinto.
Por mais que
tenha beijados pés, dedos, tornozelos,
jamais
beijei os pés do opressor, do ditador...
Jamais me
emprestei os lábios ao prepotente que,
por mais que
esperasse meu beijo, julgou-se meu senhor.
Francisco Costa.
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