quarta-feira, 8 de maio de 2013

ANÚNCIO


Aluga-se um coração.
Vazio, velho, cansado,
Mas em razoável estado de conservação.

Construção antiga, de cômodo único
De maneira que nele caiba não mais
Que um único morador, e de mobília pouca:
Arrumando com jeitinho, cabe tolerância
Paciência também cabe, e cumplicidade.

Nada que ocupe muito lugar, tome espaço:
Desconfiança, ciúme exagerado, medos...
E principalmente que acredite no senhorio.

O inquilino não deve se incomodar com a poesia
Porque por mais  que a enxote e limpe, persistirá
Como pó nos móveis, poeira sujando tudo.

Também não deverá ter aversão a cores
Porque quadros, tintas, molduras, telas...
Como ratos e baratas resistirão a tudo,
Até se escondendo, mas sempre lá, presentes.

Que traga alegria de vida, facilidade de sorrir,
Sensualidade, erotismo, olhar infantil.
Ter  viva a porção infantil é fundamental.
Pode trazer ainda gestos comedidos
E a profunda convicção de que o dia seguinte
Jamais repetirá o que passou, será melhor.

Se arrumar direito cabe ainda desapegos:
Ao que se esconde nos shoppings
E se anuncia na televisão como milagres...

Exigimos intimidade com as flores,
Respeito a tudo o que vive
E fundamentalmente fé.
Fé no Homem, fé no Mundo, fé em Deus.

Preço módico em moeda corrente: amor.

Francisco Costa

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