terça-feira, 7 de maio de 2013

AGORA, COMUM


Levo a mão direita ao peito,
lado esquerdo superior,
e rasgo pele e carne, músculos.

Um líquido viscoso e quente
escorre rubro na dor que não sinto.

Agora uma grade de ossos.
São costelas,
muro a separá-lo do mundo.

Afasto-as e lá está ele,
esponjosa vermelhidão de espanto
olhando-me nos olhos.

Passo a mão por trás. Puxo-o.
Agora pulsa em minha mão.
Amasso-o como a uma fruta,
suculência escorrendo farta.

Pronto. Sou agora um homem comum,
artífice do meu tempo,
operário construindo o dia a dia,
assistente em aplauso ao que está aí,
fiel contrito num templo,
agradecendo a Deus a ausência
dos sentimentos
e da necessidade de poesia.

Francisco Costa
Rio, 16/01/2013.

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