quarta-feira, 8 de maio de 2013

ACORDARAM O MONSTRO


Você, da nova geração, não sabe o que é inflação.
Imagine-se na fila, disputando o lugar a cotovelos
porque entre você e o da frente pode estar,
irremediável, uma remarcação de 10 ou 20%.

Imagine as suas prestações reajustadas mensalmente,
sem que os reajustes salariais acompanhem,
a pobreza de prontidão na porta, indiscreta,
olhando pela janela, pronta para entrar.

Imagine os investidores comendo 30, 40% ao mês,
os bancos emprestando a 50, 60%, os ricos
comprando a preço de bananas o seu patrimônio
tornado fundo de reserva para pagar dívidas.

Imagine a classe média ficando pobre, anônima,
e a pobre farejando miséria, catando o que não há.

Imagine o FMI desempregando, pondo algemas,
repastando direitos, por considerar regalias.

Imagine o mundo todo dando opiniões e diretrizes
de como nos rendermos incontinente, e incontinente
marcharmos no caminho da moratória, da inadimplência,
da falência, da indignidade montando acampamento.

Imagine-se em revolta, ouvindo os de sempre
com os mesmos discursos demagógicos
prometendo o assassinato do monstro filho deles,
por eles fecundado, parido e criado.

Imagine o seu shopping transformado de mercado
em museu, de vitrine com objetos só para serem olhados.

Prepare-se para as justificativas de sempre: castigo de Deus,
evidências do apocalipse próximo, do fim dos tempos,
ação do maligno, determinismo econômico, castigo,
necessidade de majorar dízimos e ofertas, orações.

Reserve lugar para reservar estoque de comida e impotência,
para guardar a memória com saudade do passado recente.

Imagine-se de listinha na mão, percorrendo supermercados,
procurando ofertas e promoções, cochilos dos remarcadores,
em peregrinação de beato louco amargando cansaço, tédio,
raiva de viver em filas, em contas, em contos políticos
de no mundo todo é assim, não pode ser melhor.

Imagine-se dividido em extremos, na inglória opção,
entre a extrema esquerda prometendo marchas triunfais
e a extrema direita com a certeza da disciplina do silêncio,
da censura, em velório do seu livre arbítrio, das suas vontades.

Isso é  a inflação, fênix renascida das cinzas da incompetência,
do oportunismo, da corrupção corroendo tudo, mastigando tudo,
como se tudo propriedade particular de uma troupe de canalhas
agindo com o seu aval, a sua complacência, a sua cumplicidade
sentada na igreja, dançando um sambinha, jogando futebol,
declinando versinhos de amor, imune ao monstro rondando.

Aí você acordará para greves, passeatas, piquetes, protestos...
E será tarde porque o monstro se associou a policiais e políticos,
vomitando gás lacrimogênio, balas de borracha, cassetetes
punindo você pela omissão, consentimento para o que o abate.

A inflação está de volta, renasceu, ressuscitou, reencarnou
e de bandeira e camiseta, como você, espera a Copa do Mundo.

Francisco Costa
Rio, 15/04/2013.

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