Você, da
nova geração, não sabe o que é inflação.
Imagine-se
na fila, disputando o lugar a cotovelos
porque entre
você e o da frente pode estar,
irremediável, uma remarcação de 10 ou 20%.
Imagine as suas
prestações reajustadas mensalmente,
sem que os
reajustes salariais acompanhem,
a pobreza de
prontidão na porta, indiscreta,
olhando pela
janela, pronta para entrar.
Imagine os
investidores comendo 30, 40% ao mês,
os bancos
emprestando a 50, 60%, os ricos
comprando a
preço de bananas o seu patrimônio
tornado
fundo de reserva para pagar dívidas.
Imagine a
classe média ficando pobre, anônima,
e a pobre
farejando miséria, catando o que não há.
Imagine o
FMI desempregando, pondo algemas,
repastando
direitos, por considerar regalias.
Imagine o
mundo todo dando opiniões e diretrizes
de como nos
rendermos incontinente, e incontinente
marcharmos
no caminho da moratória, da inadimplência,
da falência,
da indignidade montando acampamento.
Imagine-se
em revolta, ouvindo os de sempre
com os
mesmos discursos demagógicos
prometendo o
assassinato do monstro filho deles,
por eles
fecundado, parido e criado.
Imagine o
seu shopping transformado de mercado
em museu, de
vitrine com objetos só para serem olhados.
Prepare-se
para as justificativas de sempre: castigo de Deus,
evidências
do apocalipse próximo, do fim dos tempos,
ação do
maligno, determinismo econômico, castigo,
necessidade
de majorar dízimos e ofertas, orações.
Reserve
lugar para reservar estoque de comida e impotência,
para guardar
a memória com saudade do passado recente.
Imagine-se
de listinha na mão, percorrendo supermercados,
procurando
ofertas e promoções, cochilos dos remarcadores,
em
peregrinação de beato louco amargando cansaço, tédio,
raiva de
viver em filas, em contas, em contos políticos
de no mundo
todo é assim, não pode ser melhor.
Imagine-se
dividido em extremos, na inglória opção,
entre a
extrema esquerda prometendo marchas triunfais
e a extrema
direita com a certeza da disciplina do silêncio,
da censura,
em velório do seu livre arbítrio, das suas vontades.
Isso é a inflação, fênix renascida das cinzas da
incompetência,
do
oportunismo, da corrupção corroendo tudo, mastigando tudo,
como se tudo
propriedade particular de uma troupe de canalhas
agindo com o
seu aval, a sua complacência, a sua cumplicidade
sentada na
igreja, dançando um sambinha, jogando futebol,
declinando
versinhos de amor, imune ao monstro rondando.
Aí você acordará
para greves, passeatas, piquetes, protestos...
E será tarde
porque o monstro se associou a policiais e políticos,
vomitando
gás lacrimogênio, balas de borracha, cassetetes
punindo você
pela omissão, consentimento para o que o abate.
A inflação
está de volta, renasceu, ressuscitou, reencarnou
e de
bandeira e camiseta, como você, espera a Copa do Mundo.
Francisco
Costa
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