terça-feira, 7 de maio de 2013

SÓ UM CONSELHO


Dos malefícios do face, fora a intromissão
em nossos mais recônditos aspectos,
salta aos olhos o imediatismo, predador
da perfeição, padrinho do arrependimento.

Nascidos da alma, trazendo em si o imaturo
próprio do novo e do inédito, como um bebê
posto no berço, sem fala e sem gestos,
poemas clamam que lhes moldemos adultos.

Mas não é o que acontece. Mal paridos,
correm ao face, postados em ansiedade,
a cata dos abraços das curtições,
dos beijos dos comentários, do namoro logo
que se faz cópia e compartilhamento.

Dados ao mundo, é necessário o berço escuro
das gavetas, o alheamento do esquecimento,
até que, estranhos, com sotaque de outro autor,
vasculhemo-lhes corpo e alma, à cata atenta
de imperfeições ostentadas, maculando.

Conjunções a mais, preposições despropositadas,
doncordâncias discordadas, um substantivo
que não se quer ali, mas mais adiante, possessivo,
trazendo a si o eixo da idéia, adjetivos exagerados.

E podar com as tesouras da gramática, da sintaxe,
e semear de bom gosto, na busca da beleza; adubar
com o composto da experiência, do saber fazer,
até que, revisado, como se fosse de outro, estranho,
entregar ao dono: postar, publicar, imprimir o bebê
que se fez adulto e adulto, conquistou o mundo.

Francisco Costa
Rio, 01/03/2013.

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