sábado, 30 de novembro de 2013

Um botânico, técnico das coisas
Do mundo vegetal,
Aproximou-se de uma rosa
E examinou-lhe as pétalas:
Dialipétala!
E as sépalas: dialissépala!
Afastou os órgão florais externos
E examinou o receptáculo floral:
Dialicarpelar bissexuada
De anteras proeminentes
E ovários discretos. Completa,
Pensou, dando-se por satisfeito.

Um segundo homem
Aproximou-se da mesma rosa,
Encantou-se com o tom amarelo
E delicadamente tocou nas pétalas,
Maciez de veludo quase derretido,
Entre o etéreo e o concreto,
Encantando.
A seguir aspirou o seu perfume,
Longa e profundamente,
Dando-se por satisfeito.

Poemas são como as flores
E os leitores, podem dissecar-lhes
Morfemas e sintagmas, gerúndios,
Fonemas e partículas apassivadoras,
Concordâncias verbos nominais,
Hiatos e ditongos nasalados,
Cuidando para ver se tudo certo,
sem ortografia manca
ou regências de muletas.
São os técnicos da escrita,
Os botânicos das flores
Da literatura.

Mas há os que bebem poemas,
Choram nas palavras dos poemas,
Arrepiam-se em cada verso,
Fazendo do poema flor, uma flor
Desabrochada em algum galho
Dos sentimentos.
Estes não são técnicos, são poetas.

Francisco Costa

Rio, 15/11/2013.

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