sábado, 30 de novembro de 2013

Propenso ao poema,
Inspirado e tenso,
Reduzido a dedos no teclado,
Em franca taquicardia,
Dirijo-me ao texto.

Mas hoje não haverá poema,
Percebo logo, contrariado.

Há na cabeceira um vulto
Que se espraia sobre tudo
E em tudo marca presença,
Exigindo-se aqui, agora,
Mais que vulto, carne e calor.

Como escrever senão em dádiva,
Oferenda posta no passado
Que insiste, insidioso e total,
Direcionando versos e saudades?

Como ordenhar hormônios
E apascentar desejos se agora
É mera imagem que purga
Encantos adormecidos
Nas dobras do meu lençol?

Como redigir sorrisos e gozos
Se  a angústia da perda
Me veda os versos e anunciam
Que é hora de chorar?

Hoje não haverá poemas!
Nem folga nem férias,
Menos luto ou greve.

Há a ausência do coração,
E não sei me escrever parcial.

Francisco Costa

Rio, 27/11/2013.

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