Lá vem
dezembro
Com o seu ar
cínico de sempre,
Repetindo-se
constante
Como um
teste de nervos.
As pessoas
agora vão se despir
E por nas
gavetas do esquecido
O que lhes
apoquenta e incomoda,
Faz comum e
natural.
O moço de
grandes bigodes
E calças
largas, de brim,
Percorrerá
ruas e avenidas,
À caça de
bundas e sorrisos.
A moça
pudica e sonsa descobrirá
O cosmético
mais afrodisíaco,
A roupa mais
insinuante,
O deleite de
se saber masturbada
Em cabeças
anônimas e mãos.
A religiosa
correrá lojas e magazines,
Em busca da
bênção mais abençoada,
Embalada em
sacolas plásticas
A serem
postas nos pés da árvore.
O menino de
boletim azul
Exigirá a
paga pelo desempenho,
Aquele game
de porradas e tiros,
O tênis de
marca, a viagem prometida.
Enamorados irão
aos floristas
E poetas
ornamentarão versos
Com bolinhas
multicoloridas e algodão,
Alguém
acenará um lenço branco
À moça na
janela, úmida e arrepiada.
Continuarão
a chegar notícias na tevê
Dando conta
de natais bélicos
E reveillons
travestidos de armagedons,
Com o solo
enfeitado em vermelho
E uma
pirotecnia macabra no céu.
Corruptos
diluídos em uísque
Combinarão
as tacadas do ano seguinte
E no face
esquerda e direita continuarão
A esgrimar
com espadas de papel,
Trocando
revoltadas palavras, estéreis
Como úteros
secos de velhas mortas.
Tudo entre
gatinhos, versículos,
Boas noites
e bons dias, declarações
Públicas de
sexo privado, protestos,
Belas flores
e belas coxas, tudo belo
Porque visto
com olhos seletivos,
Apartando a
merda da merda.
Nas favelas da
vida, aos magotes
As carências
de tudo mastigarão
O churrasco
na laje, nas calçadas,
Cuidando de
vigiar a polícia
Porque hoje
mais feroz e covarde,
Revoltada
por trabalhar em feriado.
Os shoppings
estarão lotados, cheios,
Formigueiros
de insetos automáticos
Buscando
açúcar nas vitrines decoradas,
Evocando
matemáticos e calculistas
Em
intricados cálculos do rombo
Que se
anunciará em janeiro.
Na
manjedoura, com pouca roupa
E já se
esperando chagas e cruz,
Um menino
faz sua primeira oração:
- Não vai
adiantar nada, Pai.
Eles são
surdos. Apedrejam César
Mas não
deixam de lhe tomar a bênção.
Francisco
Costa
Rio,
28/11/2013.
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