sábado, 30 de novembro de 2013

CEGO DE VIDA

Meus olhos?
Eu os gastei por aí,
Em contemplação.

Eles ficaram com as moças no calçadão,
Delineadas curvas passeando em mim,
Com o menino que de si só tinha
O calçadão e um cachorro.

Perdi-os nos amanheceres de sol,
Percorrendo cores ressuscitadas
Do anonimato das madrugadas,
Nos roseirais, nas tardes mornas
De versos anunciando-se madrigais.

Eu os esqueci por aí, verdade,
Observando homens armados
Decidindo que meninos devem brincar
E quais devem morrer,
Olhando noites de anti festas,
Com a pirotecnia da insensatez:
Mísseis luminosos e aviões coloridos
Incandescendo bombas e sangue.

Ficaram presos em corpos soltos
E se soltaram em corpos que prendi,
Pensando finalmente o temporário,
E que se foram, levando-os junto.

Meus olhos?
Eu os gastei por aí,
Em contemplação.

Francisco Costa

Rio, 14/11/2013.

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