sábado, 30 de novembro de 2013

CULPA DOS MEUS ZOIM

Chego no sacolão, o mesmo de sempre
Porque de mercadorias frescas,
Preços bons e raro espécimen bendito
De bendita nordestina migrada de lá
De algum estado já lotado e seco,
Diretamente pros meus olhos aflitos,
Com sotaque e cadência no caminhar,
Arrastando cordões como cadela no cio,
Um tal de homem babando na gravata,
Rosnando um pro outro, se empurrando,
E... – Bom dia, morena. Tudo bem?

- Bom dia, seu professô. Vije qui tá sumido!
- Tô não. Posso confiar em você?
- Sábi qui nunca deixei u sinhô na mão!
- Então tá, vou confiar. Como tá o aipim?
- Tá qué choculate, dismanchându na boca.

(esclarecendo: aipim = mandioca = manioca
Macaxeira = ... Vai ter tanto nome assim...,
Variando de estado para estado, menos
 Na associação com a sacanagem, símbolo
Fálico que se presta a mil piadas, povo tarado!)

- Escolho as raízes que julgo melhores,
Peço que pese, pago, dou um último olhar...

Seu professô? Eu queria agora é ser do forró,
Um tocador de zabumba nessas ancas,
Ou de triângulo na sanfona, digo no triângulo,
Sei lá!

- Chego em casa, descasco a criança (o aipim,
Maldosos), ponho para cozinhar e....
Metade choculáti, como imagino os lábios dela
E metade... Mais duro que pau de tarado
Olhando pra ela, ou que de pedófilo em porta
De escola ou parquinho público, eu mereço.

Hoje voltei lá, por acaso, já que fui perto,
Abastecer o carro: - Me deu volta morena?
- Eu, seu professô? Eu não, falei verdade.

-  Duro pra danar, morena.
- Olguns. Ouguns o sinhô pegô certo, u resto
Era tudim mandioca brava, dura pra raio.

- E porque você não me avisou, morena?
- Num póssu, órdi du patrão. Fica arreliado;
Inquanto o seu professô tava peganu as raíz
Eu tava fazendo careta, fazendo qui não
In cada vez qui o sínhô pegava mão da ruim,
Mais o sinhô num viu, num olhô pra mim,
De zoim perdido nas minha perna. Bem ferto!

Francisco Costa

Rio, 30/10/2013.

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